Como cidadão, odeio o segredo de justiça! É um lugar comum dizer que se faz um uso abusivo dele, que devia ser a excepção e não a regra, que agora até já há abertura legal para que isso aconteça.
Mas na hora do “vamos ver”, os mesmos comentadores criticam as fugas, os excessos de informação, os que põem a boca no trombone.
Jamais se ataca um sistema que sonega, gratuitamente, informação aos cidadãos e coloca durante três dias esses cidadãos à toa, enquanto nas têvês se repetem à exaustão os três parágrafos da PGR e se fazem reportagens de horas para não dizer rigorosamente nada.
O segredo de justiça é uma idiotice num caso destes. O seu fundamento primeiro, o perigo de perturbar a investigação, não tolhe! Quando se prende um ex-PM como alegado “cérebro” de uma rede, deve-se ter um processo à prova de aço, uma investigação já fechada e portanto insusceptível de perturbações posteriores.
Em Portugal, o uso indiscriminado do segredo radica noutro ponto: os agentes da justiça acham-se superiores aos demais e adoram ver os frutos dessa arrogância: toda a gente à vela, os jornalistas sem tempo nem meios para investigar. Tudo isto acompanhado da confiança (da certeza!) em que alguma coisa se saberá, no vão da escada, vinda d”os investigadores”.
E essas fugas, assim à socapa garantem outra coisa que muito convém a quem acusa: que não haverá contraditório, porque nenhum advogado vai comentar fontes anónimas!
Não é o CM nem o Sol que tem culpa das fugas. Eles fazem o que qualquer outro faria, se tivesse acesso a”os investigadores”. Mas é sintomático que essas fontes escolham a escória da Imprensa, os tablóides (por coincidência os dois jornais mais anti-socráticos do burgo) para revelarem aquilo que deveriam dar às claras, em conferências de Imprensa organizadas e acessíveis a todos. Ao povo que deveriam representar.
Por outras palavras, só lamento a quase exclusividade da Felícia porque – não tendo eu acesso às palavras d”os investigadores” -, e conhecendo a peça como conheço de outros carnavais jornalísticos, não sei onde acaba a investigação policial e começam as opiniões da senhora.
Pior: sei lá se as fugas correspondem mesmo ao que está no processo e não se tratam de invenções de quem sussurra. Afinal, não seria a primeira vez… lembram-se das mentiras d”os investigadores” da Casa Pia, em que até o Expresso e o Público caíam?
Por princípio, não me choca “o espetáculo” da detenção, nem me parece que isso abale o princípio da presunção da inocência… um carro, de que nem se consegue ver a marca, a rodar a alta velocidade no escuro da noite, foi tudo o que vimos. A detenção de um ex-PM é um acontecimento público e os jornalistas não foram chamados para a manga do avião.
Lembro-me que num processo similar, no Brasil, as têvês de notícias estiveram mais de uma hora em direto, à espera que descolasse um helicóptero com gente importante ligada ao escândalo Mensalão, para cumprir pena.
A diferença é que chamaram todas as estações e não só os amigos dos “favores”.
Deixe um comentário