Os destituídos da globalização – os que já tiveram e perderam e não os que nunca tiveram – encontram, em alguns momentos políticos distribuídos pelo Ocidente, o “canto do cisne” de um paradigma passado. Não há espaço num pequeno artigo de opinião para discutir: “o quê”, “quem”, “onde” e “porquê” perdeu ou ganhou. Os privilegiados calam-se, os prejudicados protestam, agem. No Ocidente, a maioria das pessoas perdeu condições, por via do nivelamento económico Ocidente-Oriente. O processo continua. A história não pára nunca, ainda que Francis Fukuyama tenha escrito, em 1992, o livro “O fim da história e o último homem”, retratando o capitalismo como o derradeiro sistema económico da humanidade. Falta porém uma dimensão espiritual mais profunda ao sistema capitalista. Há coisas que os racionalistas não conseguem bem explicar: a ética como forma estética da alma, a metafísica, a arte enquanto representação de um ideal platónico.
As pessoas andam desorientadas: em França, o eleitorado muda de opinião de eleições em eleições. Nos EUA, idem, ainda que o espectro político seja mais pobre que o francês. Ninguém tem muitas certezas. As pessoas andam à deriva. Os livros sapienciais da humanidade tornam-se cada vez menos populares ou interpretados de forma errada.
A história avança num processo de tese, antítese e por fim de uma síntese que se tornará depois nova tese, criando um ciclo contínuo. Tenho a sensação que a nova antítese será de natureza mística, ou seja, somos todos um. A vitória dos Verdes nas autárquicas francesas prenuncia essa perspetiva. Ou seja, apesar das nossas diferenças e interesses díspares, algo nos une. A Terra, por exemplo.
Luís Palma Gomes
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