Os fantasmas dos “ismos”

Desculpem gostar pouco de manifestações de rua, ajuntamentos, de dar e de receber porrada na e da polícia, de rasgar o soutien (ou de o usar), de contestar com a cara feita um pastel de massa tenra de sangue, ou até de me envolver em partidos. Não tenho jeito. Como não tenho jeito para vestir mini-saia ou pintar a boca de vermelho intenso.

Sou da poesia. Dos olhos cujos únicos dogmas são a conjugação de palavras para nuns dias atingir o cérebro do coração.

 Noutros dias, o coração do cérebro. Sou do jeito de olhar o mundo pelo prisma do conhecimento, dos caminhos da História de onde vimos.

Sou como o colibri que transporta gotinhas de água no bico, para apagar o incêndio na grande floresta que arde.

Fazendo o meu protesto contando histórias, ensinando o que sei, vindo das experiências similares a outros como eu, que trazem aprendizagens. Todos temos um pouco. De sábio e de louco. Porque não usarmos essas capacidades para conseguirmos uma melhor versão da aplicação sapiens? 

Descarregando o programa ‘observando a História’, os “ismos” têm sido as forças que contraem e expandem, que apertam e alargam que levantam e fazem cair os nossos mundos. Bloqueiam o sistema como um vírus.

Diferem na sua essência na forma de distribuir riquezas. Até agora numa garrafa de concentrado nas casas de uns.

 Chegámos ao ismo que concentrou o todo num umbigo muito pequeno, gerando desigualdades profundas.

E gente com fome, sem vida, percebe a lógica da “teoria de tudo” de Hawking: um buraco negro tudo suga e nós desapareceremos com ele. Mas não é isso que queremos. 

A física – entre outras ciências – precisou de quebrar dogmas para inovar e criar novos conhecimentos. Galileu se fosse vivo, seria hoje um homem rico e respeitado, acumulando prémios. 

Tenho a certeza que há boas notícias por aí, como castanhas assadas no carvão e não apenas moções de censura a este mundo de gente de cabeça fodida. 

A minha Ágora é aqui e aqui venho delirar. Há boas notícias e elas são sobre nós. Sobre quem somos. Somos das trevas mas também somos das luzes. Somos do obscurantismo e da ignorância, mas também somos do conhecimento, da invenção e do pensamento.

Perante fantasmas de gente viva cujos níveis perigosos de dopamina – as que fazem o poder subir à cabeça dominando-a como qualquer vício – não esqueçamos que somos seres capazes de criar. Tudo. Até uma teoria para o todo infinito.

Logo, onde outros mundos existem e são possíveis. Sim, nós, somos possíveis para além dos fantasmas dos ismos.

 E, nos círculos que frequento, o Outono acontece, as folhas caem dando lugar a novas folhas, num novo tempo.

Sei que vem aí, espero ansiosamente a Primavera. Até lá, faço a minha contestação como um colibri poeticamente apaga um fogo de Verão. Gota a gota, contando histórias sobre quem somos, criando, delirando.

Anabela Ferreira

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