Pois é. Os pivots das televisões andam todos de faca na liga contra os comentadores que não são alinhados ou que criticam a narrativa do Governo, mormente contra aqueles que são mais próximos da área do PS.
Já publiquei ontem um texto sobre o Programa Eleitoral do PS, pelo que a minha opinião sobre o mesmo, ou sobre aquilo que dele já se sabe, é conhecida. Assim sendo, aquilo que quero agora tratar é a bateria de fogo cerrado que está a ser feita nas televisões contra o dito Programa, recorrendo-se a expedientes nem sempre limpos.
É Ana Lourenço na SICN que nos frente a frente tenta colocar os comentadores “desalinhados” em situações de contradição que depois se voltam contra ela. É a escolha dos intervenientes nos debates que é sempre extremada (BE contra CDS, PCP contra PSD), de forma que, o tema da berra, o Programa Eleitoral do PS, seja zurzido pela Direita e pela Esquerda.
É Paulo Magalhães na TVI24, tentando encurralar os entrevistados, como aconteceu no último programa de comentário, Política Mesmo, com Manuela Ferreira Leite e também com Augusto Santos Silva. E já nem falo nos Fórum em directo da RTP Informação com a Alberta Marques Fernandes mais os seus convidados, todos convenientemente alinhados com a defesa de Passos, alguns deles de forma despudorada.
E podia prosseguir para os fóruns da Paula Magalhães na TVI24 em que o cenário é mais ou menos idêntico. Nestes casos, são os pivots e os seus “inteligentes” e opinativos convidados que tentam branquear as opiniões dos telespectadores que são, por norma em 90%, sempre desfavoráveis ao Governo. Algumas são testemunhos de vidas destruídas, casos de um dramatismo de real sofrimento, cru e duro, que por vezes é como um murro no estômago do ouvinte.
É o preço dos directos, que ainda vão subsistindo nas televisões. O pivot e o convidado ficam de olhos baixos e caídos enquanto que Passos é zurzido pelos ouvintes. Por vezes, cortam-lhes a palavra quando eles estão a recorrer a adjectivos mais vernaculares. E quando surge, por oposição, um apaniguado do Governo a debitar loas ao saque e à austeridade, o pivot e o convidado respiram de alívio e sorriem distendidos.
E é esta a comunicação social televisiva que temos. Pivots contra comentadores, pivots e convidados contra espectadores. A liberdade de informar está em perigo? Não disse isso. A isenção de quem informa é que não existe. Mas o mais grave é que se disfarça essa falta de isenção invocando-se o nome da própria liberdade de informar.
Quando estudei marketing aprendi que a mais eficaz publicidade é a publicidade “oculta”. Ou seja, aquela que nos é direccionada como se não fosse publicidade mas sim informação, inócua e neutra. No caso da manipulação da comunicação social, para fins políticos, o princípio é o mesmo: as mensagens mais eficazes são as que são produzidas, assinadas e divulgadas em nome de uma suposta isenção.
Cumpre denunciar isto, porque é a denúncia que retira a eficácia à manipulação. Parafraseando Saint-Exupéry no Principezinho, pela voz da Raposa: “A perfeição não existe”.
Tal como a isenção na comunicação que nos vai sendo servida.
(*) Estátua de Sal é pseudónimo dum professor universitário devidamente reconhecido pelo Noticias Online.
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