Usavam lantejoulas, jaquetas listadas, palcos iluminados… havia programas de rádio, televisão, jantares de sábado seguido de namoro e saídas de mão na mão.
Uma ida ao cinema para matar a sensaboria do dia-a-dia.
Confiava-se na arte e no artista… era bicho de trabalho e, claro opinião.
Respeitava-se o seu lugar por saber estar, ser e aparecer.
Hoje, afogado no mercantilismo não sabem o que usar para parecer.
Usam saias capacitistas para enfunar as vistas.
Sai uma música e logo a entrevista: “a minha vida foi mais dura que a tua!”
Não que saibam que se entregam à usura! É o desespero e a ordem de quem os manda!
Antes, eram letrados, apaixonados, admirados; hoje estridentes e enlevados com a apropriação do eu! Alguém lhes disse que são especiais.
E fazem das causas pulseirinhas de pé.
“Sou gorda mas gosto!”- e pimba; 20 fotos com direito a milhares de likes;
“Estou deprimida mas tenho coragem!”- e pimba, mais um link para a última cantiga sobre a pandemia!
A causa está deixar de servir a cintura de quem por ela pena!
Não falo das mais gravosas por respeito…
Falemos delas; das necessidades sociais mas sem tentar vender imagem; sem montar trinta espectáculos cujos bilhetes revertem para o bolso da falta de vergonha e desespero de uma época em que o afã da produção exige algo de especial de cada um.
Em todas as casas há uma necessidade; essa é irmã de uma segunda. Porque um mal nunca está só.
As redes sociais roubaram-Vos a ideia de que são diferentes! Não há que se agastarem e engalanarem com colares de desgraças para terem um poleiro.
Há que dar as mãos e ficar gratos por nos descobrirmos nas mesmas fragilidades e respeitar as lutas por quem as merece!
Parem de vender a imagem à conta da desgraça alheia… parem de musicar choradinhos que descobriram numa folha de jornal e que dá uma letra vendável!
Quem, diariamente luta pela sua sobrevivência, sem apoio, sem os seus direitos garantidos não precisa que as causas se tornem inimigas de tempo de antena.
Ninguém merece continuar a senda do coitadismo mascarado pelo snobismo do lacrimejar interrompido pelo calcitrim!
O poder usa-se pelo outro!
Vão vender gelados para a testa das vossas tias!
Um artista não usa a fragilidade do seu público, ainda que tenha a carreira raptada pelo medo do esquecimento, das audiências ou de agentes de valores dúbios!
Usem a vossa alma e deixem a conta bancária crescer com a saúde de uma economia que rejeita a exploração do mais frágil!
Rita Maia
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