Já a passear pelas páginas do epílogo da história do ano eis que chega primeiro a época de acolher um recém-nascido, refugiado do Médio Oriente em fuga da fúria de um rei egípcio, em riscos de sofrer um atentado.
O Natal já não é o que era…e mudou tanto que vivo bem sem ele. Jesus não tem nada a ver com a data e se cá voltasse ser-lhe-ia diagnosticado a síndrome acelerada de desajustamento a esta porcaria (SADaep) ao ver no que o seu clube de fãs transformou a época, com as invenções que lhe colou – a cuspo – para que o capitalismo floresça (é verdade tudo é política, ganância, dinheiro e poços de petróleo). Bem no meio da terra que o viu nascer.
Segundo conclusões de estudos recentes feitos por ateus, a razão porque a Igreja fundada por Pedro não quer o regresso de JC seria porque este os obrigaria à venda apressada de todo o património – aos chineses imagino – em vendas de garagem, para entrega dos fundos recolhidos, aos pobres e necessitados.
Este tem sido um ano horribilis para o mundo em geral. E ainda não acabou. Quando começar o próximo suspeito que será igual. Não é possível fingir desejos e votos de prosperidade e felicidade, primeiro porque não vão alterar de facto a vida de ninguém – nem do mundo – sobretudo não alteram a vida daqueles que não conseguem sinalizar rachas nem de prosperidade menos ainda de felicidade.
Os meus desejos como não crente prendem-se com outras espiritualidades. Digo hoje, que há pessoas que nem gosto nem vou gostar em 2017 ou em 2098. Mas se eu mudar de perspectiva amanhã, significa que amadureci de alguma forma. Essa capacidade é um crescimento espiritual que eu pretendo desenvolver e ver outros fazer acontecer.
Há pessoas com quem não me relaciono nem quero (e vice-versa), nem neste nem no próximo Natal. Nem 2098. Mas, a manter estas convicções quero ser uma pessoa melhor no que conseguir ser se me cruzar com eles. Não é dar a outra face, mas aceitar e tolerar a sua existência perto da minha (o caso do Trump é um bom exemplo).
Daqui até ao cair do pano, voto para que haja mais seres humanos com uma vida livre de hipocrisias e fingimentos entre corpo e alma, alma e corpo. Menos ignorância, menos wikipédia, mais livros e mais educação. Mais bondade menos inteligência. Menos apatia e menos egoísmo.
No meu dia-a- dia quero saber ver o caminho onde encontre a resolução dos problemas. Ter o que ter para agradecer. Conseguir vislumbrar sempre a bondade nos actos das pessoas e colocá-la em prática nos meus. Desejo não me esquecer de o fazer, se me cruzar com algum dos meus inimigos ou de gente que eu quero e me quer ver simplesmente pelas costas.
E como não crente católica, esperanço-me por ver acontecer milagres. Estes são os meus votos. Para mim e para os que me são essenciais. Para os outros também (mais ou menos mas não necessariamente obrigatório…). Estou a brincar claro. Mas não brinco no que diz respeito a certas trampas por aí.
Quero ver gente que só tem preocupações superficiais, banais e sem oxigénio conseguir ter na mesma proporção, a necessidade de se bater por convicções com substância e limpas de dióxido de carbono.
Vou passar muito tempo morta. Nas actuais condições recuso-me a voltar à terra senão depois de uma eternidade no silêncio. Por isso vou deixar que a voz não se canse de falar sobre o que não esperava encontrar quando – por pura insanidade – decidi viajar e viver nesta aldeia tresloucada. Ainda bem que JC não pensa voltar. Ia pagar do seu bolso a quem o traísse e iria por perna própria para a cruz com uma depressão ou uma SADaep.
Até que a minha nave regresse para me vir buscar usarei a linguagem para cumprir esta passagem e fazer de cada dia do ano que espreita um renovado nascimento. Ou como diriam os Monty Python- ver o lado simples e luminoso da vida. Agora vou celebrar o nascimento do primeiro anarquista da história, JC. Por sinal, fazendo uso da minha imaginação, tal como fizeram os que escreveram a sua história na Bíblia, e, atendendo à sua origem, gosto de acreditar que ele era preto e usava rastas. E que nunca se calou.
Tenham pois, bons cristãos, uma noite Consolada, um ano de oiro, coberto de mirra, cheirando a incenso.
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