Paguei antecipadamente o empréstimo! (por Jacinto Furtado)

OrelhasBurro01

(imagem de Ana Pérez-Quiroga)

Fui ao banco e fiz o pagamento antecipado do empréstimo que tinha contraído. Fiquei satisfeito, contei a toda a gente, contei aos amigos, contei aos conhecidos, contei aos inimigos e até contei a um tipo grego que conheci tempos atrás.

Tinha feito um excelente trabalho, pagar antecipadamente o empréstimo vinha justificar tudo o que tinha feito nos últimos tempos.

Para alcançar este objectivo tinha despedido a empregada doméstica, cortei o pequeno almoço e o lanche aos putos, ao jantar comiam sopa com um naco de pão duro, molhado na sopa fica como novo, sim porque esta malta estava habituada a comer bifes, razão tem a Isabel Jonet, há realmente maus hábitos, sopinha e pão duro é muito bom. Cortei nos medicamentos, gripes lá em casa passaram a ser tratadas com chá de limão com meia colher de mel e um cobertor. As mesadas da criançada levaram um brutal corte e muito mais coisas, tudo em nome dum nobre objectivo.

Mas finalmente podia dizer que eu é que percebia, eu é que sabia como se geria a coisa pública, perdão, a coisa familiar. Reuni a família para dar a boa nova, quando estavam todos sentados e calados dei a notícia…

“Paguei antecipadamente o empréstimo!”

Fantástico silêncio, ficou tudo boquiaberto… Magnífica sensação, no meio de toda a emoção pergunta a minha filha mais nova “Pai, conseguiste pagar isso com o dinheiro da empregada, das nossas mesadas, da nossa comida, dos nossos medicamentos e de todas as outras coisas que nos tiraste?”

Raios partam a miúda, com esta é que ela me lixou, não estava à espera da pergunta, há sempre alguém que faz perguntas inoportunas e que destrói a festa alheia.

Lá tive de lhe dizer que não foi bem isso que aconteceu. Lá tive de lhe explicar que o dinheiro da empregada, do brutal corte das mesadas, da comida, dos medicamentos e de todas as outras coisas não serviu para pagar a divida mas sim para contratar uns amigos como assessores, como consultores, colocá-los em posições boas para que nada lhes faltasse.

 Lá tive de lhe dizer que na realidade até devemos mais do que devíamos. Lá tive de explicar que para pagar antecipadamente o empréstimo tive de fazer outro, é certo que por mais tempo e com um juro mais baixo, mas na realidade tive de fazer outro empréstimo.

O raio da miúda volta à carga e diz “Oh Pai afinal não pagaste o empréstimo, o que tu fizeste foi uma transferência de crédito. Continuas a dever mas agora deves a outro!”

Pronto, com esta fiquei arrumado, nada mais a dizer. Todos tinham engolido o conto para crianças menos a criança que estava atenta e percebeu que afinal tudo não passava duma manobra de propaganda.

Nota do autor: Qualquer semelhança entre esta narrativa e qualquer outra realidade é pura coincidência.

17 comentários a “Paguei antecipadamente o empréstimo! (por Jacinto Furtado)”

  1. João diz:

    Caro Jacinto,

    Desculpe, mas não há limites para a demagogia? Estes discursos do não ter dinheiro para os bifes, ou vieram os maus da troika e tiraram tudo é suposto levar onde? Com esta argumentação só se consegue ainda mais extremar posições e não é isso que o país precisa.

    Há factos que não se podem misturar. No Estado, como em nossas casa, se continuamente gastamos mais do que temos vai haver um problema. Independentemente de onde o estamos a gastar. Se gastamos mais do que temos temos um problema. Podemos continuar a viver dos cartões de crédito ou empréstimos mas um dia a torneira fecha. Porque em nossas casas, como no Estado, ninguém (excepto talvez os amigos do Sócrates) aceita continuar a dar-nos dinheiro eternamente, pois no momento em que a nossa família ou Estado ficar insolvente, acaba-se tudo. E mesmo que por hipótese alguém aceitasse financiar sem limites, eu seguramente não queria que os meus bisnetos tenham de pagar o meu estilo de vida.

    Por isso a questão não é se tirámos mesada ou pequeno almoço. A questão é se temos de ajustar ou não o nosso padrão de consumo para poder viver de acordo com as nossas disponibilidade financeiras ou se devemos viver à custo do dinheiro de outros. E não se depreenda daqui que para isso temos todos de comer menos bife. Mas entre comer menos bifes, cinema, unhas de gel ou telemóveis de última geração vai uma grande diferença, e em algum lado temos de cortar. Nos últimos anos no Estado cortou-se muito. Acho que se cortou muito mal em muitos casos. Mas discordando da forma, não posso discordar do fundo. Temos de gastar menos (e dizer que conseguimos isso cortando os ordenados dos Boys ou é mais uma vez demagogia). Dizer que a solução é o crescimento económico – também todos concordamos – é uma ilusão no curto prazo, pois após várias décadas a supostamente promover o investimento público não restou grande resultado.

    O pagamento antecipado do empréstimo do FMI é apenas gestão da dívida. Se pudermos trocar dívida de um cartão de crédito em que pagamos juros de 5% por uma com juros de 2% não fará sentido? Eu penso que sim. Podemos questionar a propaganda política sobre isso. Podemos questionar o que o Governo tem feito. Mas dizer que a operação, que traz poupanças a todos nós, não faz sentido não me parece sério.

    • Pedro Albuquerque diz:

      Lá vem o mito do “vivemos acima das nossas possibilidades”!!!
      Este deve ser mais um ignorante que pensa que só ele é que trabalha para o que tem!
      Eu não vivo acima das minhas possibilidades, o estado e seus amigos (fundações, submarinos, auto-estradas, bancos, máquina de selfies a 30.000€) é que vive acima das minha possibilidades.
      Enterre a cabeça na areia e continua pensar que são os Portugueses que são uns gastadores! Desde quando um banco empresta alguma coisa sem ter a certeza de que a somos capazes de pagar.
      Se tenho carro é porque ganho o suficiente para o pagar, se tenho casa é porque ganho o suficiente para a pagar, sem comprei um portátil ou o telemóvel xpto é porque fui pondo de parte alguma para isso. Não tenho uma segunda casa de férias ou o barco-à-vela com que sonho porque não ganho o sufuciente e nenhum banco jamais me emprestará o dinheiro porque isso iria ultrapassar a “taxa de esforço”!!! Portanto, eu não vivo acima das minhas possibilidades, e esta, é a história da maioria dos Portugueses!
      Agora, apesar de os meus bens estarem limitados aos meus rendimentos, isso já não acontece com a corja de politicos, sanguesugas e amigos dos primeiros e segundos na administracção publica. E esses sim, vivem, não acima das suas possobilidades, mas acima das minhaS! Claro que mais tarde ou mais cedo se descobre que o dinheiro não dá para tudo, e ai, vem a troika vem os empréstimos tudo, supostamente, em nome do bem público. Em nome de quem? Eu não preciso de empréstimo nenhum! Nenhum dos meus familiares e amigos também está precisar de um empréstimo!

      • João diz:

        Caro Pedro, o iluminado, e não ignorante.

        Se o Estado tem défice, é porque gasta mais do que tem. Logo vive acima das possibilidades. E o Estado somos todos nós. Podemos dizer que a culpa é dos políticos. Se isso o faz sentir melhor. Se isto é tão difícil de entender, deve ser por eu seu mesmo ignorante.

        Sobre se precisa ou não de empréstimos não sei. Mas relembro que o problema não é esse. O Estado já tem empréstimos. Não é uma questão se deve ou não fazer mais. E na de troca de dívida vai poupar dinheiro.

        O artigo do Jacinto Furtado é que fala numa família com empréstimos e que precisa de fazer outro para pagar o que tinha, por isso podemos continuar a discutir a questão ao lado ou ver a coisa de frente: o artigo tenta ridicularizar a operação de troca de dívida. O que como disse não é sério.

        Se o artigo viesse falar dos cortes injustos do governo, do desemprego elevadíssimo, das incongruências dos alemães que hora nos perseguem hora nos elogiam etc, etc,etc, certamente teria tido menos críticas. Com tanta coisa para criticar na situação em que estamos é triste que se critique esta e de uma forma tão pouco rigorosa. Porque se o artigo fosse sério em vez de terminar assim:

        “O raio da miúda volta à carga e diz “Oh Pai afinal não pagaste o empréstimo, o que tu fizeste foi uma transferência de crédito. Continuas a dever mas agora deves a outro!”

        Pronto, com esta fiquei arrumado, nada mais a dizer.”

        Terminaria assim:

        “O raio da miúda volta à carga e diz “Oh Pai afinal não pagaste o empréstimo, o que tu fizeste foi uma transferência de crédito. Continuas a dever mas agora deves a outro!”

        “Sim filha, continuamos com um empréstimo mas vamos pagar menos juros por ele. E com o que vamos poupar nessa operação podemos voltar a tomar pequeno-almoço.”

  2. Pedro Soares Lourenço diz:

    Quem ler esta história pode ficar com a ilusão que retrata a realidade da recente manobra financeira do pagamento da dívida do governo português MAS É FALSO.
    O pagamento antecipado de dívida ao FMI está a ser feito, não pela austeridade ou subida de exportações, nem pelo desemprego ou encerramento de milhares de empresas nem nada disso, o governo está a financiar-se, e bem, nos mercados a preços de juro mais baixos mas, contraindo novos empréstimos longe dos tiranos do FMI, mas a dívida é a mesma e até está CADA VEZ MAIOR…!

  3. […] recentemente popular um artigo sobre o pagamento antecipado de parte da dívida portuguesa à troika, utilizando como analogia […]

  4. Nightwish diz:

    É extraordinário que os colaboracionistas do regime a única coisa que conseguem fazer é comparar a microeconomia com a macroeconomia, mostrando que nada aprenderam sobre a última nos últimos 7 anos.
    A contra-prova é simples, a dívida aumentou, os cortes/impostos aos 99% são para manter e aumentar durante os próximos 20 anos, as empresas portuguesas cada vez estão a ficar mais para trás sem investimento ou troca de equipamentos, há cada vez menos procura na Europa devido a uma moeda demasiado forte e, consequentemente, cada vez se vende menos.
    Isso é que é macroeconomia, andar a brincar com os juros não quer dizer absolutamente nada.

    • Miguel Cardoso diz:

      Que disparate! Claro q

    • Miguel Cardoso diz:

      Que disparate! Claro que dívida aumentou, mas aumentou 27 mil milhões, o mesmo em 4 anos do que só em 2009, e não poderia ser de outra maneira com a dívida herdada, a não ser que fizéssemos como os Gregos e acabássemos com o SNS e despedíssemos funcionários públicos massivamente o que a constituição não permite. E o Euro está historicamente baixo, quase na paridade com o USD.

  5. Miguel Cardoso diz:

    Será possível ser-se tão demagogo? Ou será que é mesmo só completa falta de informação? Primeiro quem gastou o dinheiro das mesadas, da empregada, da comida e dos medicamentos etc. foi quem contraiu dívida em nome dele e dos filhos, e deu como única garantia colateral dessa dívida os cortes, os aumentos de impostos e assinou um documento onde os especificava. Sendo que por acaso quem o fez até já tinha feito cortes similares embora sem nenhum sucesso nos objectivos antes pelo contrário. E obviamente que neste caso o “culpado” não é quem ficou com a obrigação de pagar essa dívida, pelo logo por aí a analogia é simplesmente ridicula. Mas é pior porque mostra um total desconhecimento desta operação. É que o que vai acontecer é que substituindo dívida contraída pelo governo anterior a juros mais altos por outra a juros mais baixos o estado vai poupar 200 milhões por ano, valor superior por exemplo ao reembolso do IRS, pelo que analogia ainda fica mais sem pés nem cabeça! Olhe-se para esta operação como se olhar, não só ela traz vantagens óbvias aos Portugueses como só é possível pelo trabalho que o País como um todo fez nos últimos 4 anos para recuperar do descalabro a que foi conduzido.

    • Jacinto Furtado diz:

      Caro Miguel Cardoso,
      Entendo que seja difícil entender ou, até mesmo aceitar que se desmonte a manobra de propaganda que está a ser feita afirmando-se que se vai pagar o empréstimo dando a entender que se vai baixar a dívida, mas se ler com atenção está bem claro no texto
      “Lá tive de lhe dizer que na realidade até devemos mais do que devíamos. Lá tive de explicar que para pagar antecipadamente o empréstimo tive de fazer outro, é certo que por mais tempo e com um juro mais baixo, mas na realidade tive de fazer outro empréstimo.”
      Desculpe não ter alinhado pela narrativa oficial!
      Cumprimentos e bom fim de semana!

      • Miguel Cardoso diz:

        O meu caro não desmontou rigorosamente nada, só mostrou que se informa por panfletos e que tem uma clara agenda que é desinformar. O governo nunca disse que ia pagar sem contrair nova dívida, algo em aliás só alguém que viva na lua conseguiria acreditar, e até falou no valor da poupança anual em juros da operação. Ora se falou na poupança nos juros é porque se mantém o empréstimo, sendo que o facto relevante é que o estado poupa 200 milhões por ano que serão utilizados de frma mais benéfica para os cidadãos e nem todo o spin do mundo consegue alterar este facto. Aliás isto já ocorreu quando Portugal não quis receber a última tranche da troika, exactamente porque já se conseguia financiar a juros mais baixos. Isto é só uma tentativa barata de desinformar mais um povo já de si pateticamente desinformado, aliás com o conluio do governo que é de facto um desastre a comunicar, de uma comunicação social de péssima qualidade e das agendas de uma série de corporações que querem manter o estado refém dos seus interesses.

        http://www.tvi24.iol.pt/economia/reembolso-antecipado/governo-quer-pagar-antecipadamente-14-mil-milhoes-ao-fmi

        • Joao diz:

          Jacinto,
          não sendo eu de lealdade ideológica e admitindo que este governo fez asneiras fortes,
          é para mim chocante quando vejo cegos de um lado e de outro.
          Compreende que apenas depois do resgate se começaram a descobrir autênticos campos minados de dívidas (aqui tal como na grécia escondia-se debaixo do tapete qualquer tipo de sujidade) como a falsificação de contas na Madeira, em dezenas de autarquias (PSD, PS, CDS, PCP, embora umas mais que outras..) e o impacto que isso teve na “dívida” conhecida?
          Se o senhor não quer pertencer a um dos seguintes grupos: ignorantes por desinteresse, boys demagogos, ignorantes por raiva (os menos culpados pois realmente é complicado justificar a quem perdeu empregos e se vê obrigado a viver com menos porque é que não se volta ao tempo do faz de conta que tudo está bem),
          precisa de fazer mais esforço.

  6. António Costa diz:

    Oh Jacinto Furtado você é de uma ignorância de primeira categoria.

    O empréstimo não vai ser pago o que vi acontecer é uma troca porque os juros da troika são muito maiores do que os que o mercado cobra actualmente. Aí o nosso governo está a jogar mal porque já podia ter exigido um alívio dos juros.

    Agora se você acha que não pagando os empréstimos que ía tudo ficar a correr ás mil maravilhas está bem enganado, este governo nem cortou tanto quanto isso o que fez mais foi aumentar impostos, se não gosta pode sempre ir viver para Espanha onde o governo nem pensou duas e limpou o emprego a 30% da população. E mais nem digo se me conseguir justificar alguma da verborreia que mandou para aí com fundamentos económicos e de gestão ainda sou capaz de lhe explicar mais alguma coisa. Se quer ir ficar com os combustíveis ao dobro do preço e sem acesso a material informático com iPhones ao preço de de 10 salários mínimos vote PCP, PS, Bloco se não houver dinheiro para pagar médicos e professores depois não vai ser um corte vai ser um arrastão.

    Pode dar uma resposta muito fácil á sua filha: é fácil se o papá não paga-se o empréstimo íamos morar para a rua porque ficava-mos sem casa.

    • Jacinto Furtado diz:

      Caro António Costa,
      Entendo que seja difícil entender ou, até mesmo aceitar que se desmonte a manobra de propaganda que está a ser feita afirmando-se que se vai pagar o empréstimo dando a entender que se vai baixar a dívida, mas se ler com atenção está bem claro no texto
      “Lá tive de lhe dizer que na realidade até devemos mais do que devíamos. Lá tive de explicar que para pagar antecipadamente o empréstimo tive de fazer outro, é certo que por mais tempo e com um juro mais baixo, mas na realidade tive de fazer outro empréstimo.”
      Desculpe não ter alinhado pela narrativa oficial!
      Cumprimentos e bom fim de semana!

      • Miguel Cardoso diz:

        Que disparate! Já vi que afinal não era demagogia era mesmo falta de informação. O governo nunca disse que ia pagar sem contrair nova dívida, coisa em que só alguém que viva na lua conseguiria acreditar e até falou no valor da poupança anual em juros da operação. Aliás isto já ocorreu quando Portugal não quis receber a última tranche da troika, exactamente porque já se conseguia financiar a juros mais baixos. Isto é só uma tentativa barata de desinformar mais um povo já pateticamente desinformado, aliás com o conluio do governo que é de facto um desastre a comunicar.

        http://www.tvi24.iol.pt/economia/reembolso-antecipado/governo-quer-pagar-antecipadamente-14-mil-milhoes-ao-fmi

  7. John diz:

    Pois… assim dá para perceber melhor os contornos da coisa… e dos sofismas!

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