No passado domingo foi revelada parte duma investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas (CIJ), apenas a ponta do véu foi levantada, mas foi o suficiente para o mundo tremer.
Fruto duma fuga de informação de dimensão nunca antes vista, 2,6 TB de informação mais de 11 milhões de documentos referentes a quase 40 anos e que revelam dados sobre mais de 210 mil companhias constituídas nos chamados paraísos fiscais.
Governos, Justiça e as mais variadas personalidades da vida pública vêm agora a terreiro mostrar-se escandalizadas, horrorizadas com este drama e prometendo tomar medidas, certamente que consideram esta fuga uma tragédia, mesmo sendo apenas a ponta do iceberg.
Como diria Artur Albaran, nos seus tempos áureos do jornalismo “é o drama, o horror, a tragédia”, como é possível que pessoas tão sérias estejam envolvidas em esquemas tão sujos? Como é que uma coisa destas foi acontecer sem que ninguém se tenha apercebido?
Estas não são as perguntas certas, a pergunta certeira é: estão todos a fazer figura de parvos porquê? Esta fuga de informação, este trabalho que está a ser desenvolvido pelo consórcio de jornalistas vem apenas chamar os bois pelo nome, é apenas a ponta do iceberg e chama os nomes apenas a alguns bois.
Há muito que se sabia de tudo isto e de muito mais, sabia-se, mas fingia-se que não se sabia, quantos barcos estão ancorados nas marinas portuguesas que são propriedade de empresas offshore e quantos são utilizados sempre pelas mesmas pessoas? Quantos imóveis de luxo estão registados em nome de empresas offshore e em quantos vivem pessoas “por favor” ou com rendas que não são compatíveis com os imóveis? Quantas empresas têm como principais accionistas empresas offshore? Sabia-se e não se fez nada pelo simples motivo que não interessava, nem interessa!
Esta que é uma enorme fuga de informação, mais um excelente trabalho do CIJ, é simultaneamente, conforme já referido, uma pequena ponta do iceberg. No que toca a Portugal constam 244 companhias, 255 accionistas, 23 clientes e 34 benificiários o que, assim de repente, contando pelos dedos, deu para concluir que, ou os conheço todos ou então faltam muitos nesta situação ou em situação similar.
Uma dúvida que pode despertar, para os mais inocentes, é saber a razão pela qual, sabendo-se de tudo isto, mesmo antes de ser revelada este trabalho porque motivo nada foi feito, nada é feito e provavelmente nada será feito?
A resposta a esta pergunta estará provavelmente na imagem reproduzida acima, basta ver quem tem mais interesse em manter as coisas como estão, quem tem interesse em em ter em territórios seus estas empresas recebendo por isso benefícios financeiros.
Claro que, neste caso, no caso Panama Papers, são os ingleses mas, no que dia em que aparecer uma fuga com dados de Delaware, por exemplo, vai-se concluir que os americanos também não são de todo inocentes nesta história, aliás não há inocentes nesta história, há apenas interesses, uns tem mais outros menos, dito de outra forma, uns conseguem mais outros conseguem menos. Não é por acaso que muito se fala e nada se faz em relação ao nosso offshore da Madeira.
A questão que se coloca é saber, no final, o que vai acontecer. A resposta é muito simples, nada vai acontecer, vão rolar algumas cabeças (poucas) para gáudio das multidões, acalma-se a sede de sangue da populaça e continua o jogo porque nada nem ninguém quer incomodar estes jogadores.
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