Surpreendem-me todos os comentadores que pretendem comparar a situação da Grécia à de Portugal.
A Grécia tinha, antes da crise, um salário mínimo que era quase o dobro do Português. Quem nunca tenha ido à Grécia, poderá pensar que aquilo, por lá, é um paraíso turístico como Portugal. Erro crasso. A Grécia não tem ligações afectivas e geográficas a territórios em grande expansão económica, como Portugal tem em relação a África. Não tem fronteiras com os países com fortes economias, antes, tem fronteiras terrestres com a Albânia, Macedónia, Bulgária e Turquia. Mas a Albânia, Macedónia, Islândia, Montenegro, Sérvia e Turquia estão, todos, a caminho de integrar a UE. A Grécia ficaria, assim, isolada geograficamente, caso decida sair da União Europeia. As suas fronteiras tornam-se por essa via inúteis. A Grécia não tem portanto forma de sobreviver na Europa que não seja… a própria Europa.
Por outro lado, a Grécia tem uma bela geografia e um clima temperado/mediterrânico. Mas isso, é só. Em geral, o terreno é montanhoso e escarpado. O tabaco é a principal cultura do país, mas também têm oliveiras. Só que a nossa azeitona é melhor do que a deles. smile emoticon A Grécia não tem indústria, com excepção da construção naval, o que é comum a Portugal. Mas não qualquer tradição nos têxteis e calçado. A Grécia não tem recursos naturais e a falta de combustíveis e de energia eléctrica foi um grande obstáculo ao desenvolvimento do sector industrial. A pesca é limitada e as esponjas (!) são o principal produto marinho destinado à exportação. A agricultura desempenha por isso um papel fundamental na economia da Grécia, a par do turismo. Um turismo ultrapassado e decadente, fruto do nulo investimento. O país está poluído e não tem recursos humanos tecnicamente bem preparados, como Portugal. Não há notícias do envolvimento de gregos em qualquer grande descoberta recente. Pior, o povo grego já mostrou que não tem a paciência e resistência do povo português…
Se é a saída da Grécia que causa danos ao euro? Claro que não é! Antes pelo contrário, só o tornará mais forte.
A única esperança para a Grécia, é o investimento russo no gás natural. A Grécia poderá ser, aí sim, um “entrave” à guerra económica entre a UE e a Rússia, devida à questão Ucraniana. A Grécia, apesar de tudo, tem um posicionamento geo-político estratégico que interessa à Alemanha e EUA salvaguardar. A Grécia está encravada entre a Europa, a Ásia, o Oriente Médio e a África. O posicionamento pode portanto ser interpretado, ou como estratégico, ou como isolado. Um pouco como Portugal, só que, não é necessariamente um “Porto” para a Europa.
Por isso, e só por isso, a Alemanha poderá ser tentada a não deixar a Grécia “cair”. Caso a Grécia saia, ficará completamente isolada.
Resumindo: a estratégia de Tsipras é pura e simplesmente suicidária. Os Gregos vão acabar mal…
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