Prostitutas e chulos – O Brexshit

A propósito do Brexshit – eu que sou prostituta no Reino Desunido, interesso-me particularmente pelo tema – dele depende a minha vida profissional, que se junta à de milhares de cidadãos que por esta altura alteraram tanto das suas vidas e, outros confundidos que estão, num limbo de pânico, procuram perceber a saída, habituados que estamos – nós europeus – a entrar e a sair de e entre 27 países. 

Faço parte do grupo que canta em versão kuduro “que se fodam”! Mas estou espantada com dois anos perdidos de incompetência nas negociações. Também não desisto de pensar na forma de evitar esta saída. 

Não em defesa da União Europeia com estes políticos farsantes, vendidos ao poder e à corrupção, mas pelos povos europeus que merecem uma versão nova da União.

Bare with me como se diz em anglo-saxão…penso logo explico. Com uma metáfora.

Política e Teatro andam na cama juntos. São puta e proxeneta por vezes confundindo papéis. Estes actores miseráveis – políticos e tenentes de campo que ajudam a conservar lugares – levam-se muito a sério, consideram-se imortais e importantes. Não passam de chicos-espertos. As suas máscaras já não enganam ninguém. Representam mal.

Não fosse o dinheiro vindo da produção do espectáculo eram zés -ninguém. São-no. Ainda por cima a queca dos chulos é francamente “disgusting”. Repulsiva e nauseante. A política é uma peça de teatro por excelência. 

Inventada pelos homens, todas as regras são concebidas por estes e tal como o poder monárquico ou religioso – caído em desgraça nalguns lugares e eras – pelas mãos dos homens, pode ser re-concebido, destituído ou modificado. Tal como uma peça de teatro, pode ser alterada,rescrita ou totalmente apagada. 

Bare with me, não existe nada, mas nada que esteja escrito por um tabelião numa pedra. Nada que não possa ser repensado. Vejamos a política. Vivemos a Era da incompetência e da estupidificação. Esquecemos a lei da natureza. Nela nada se destrói ou perde. Transforma-se. Um dia esta era será apenas de má memória. Uma má peça de teatro. 

Governantes imbecis, pensando que os bretões não queriam sair da Europa propuseram um referendo. Afinal 17 milhões querem sair. O “não” ganhou por uma margem pequena mas ganhou. A Europa é esta grande família que como todas, anda à estalada entre irmãos e primos, pais e filhos, tios e sobrinhos. Manipulam-se e são tóxicos. A Europa é a representação das famílias que se dão bem e mal e fazem acordos, se solidarizam, se viram as costas e fazem pazes. Uma representação da arte teatral. Ou o seu contrário. 

Os acordos – assinados por todos os países no Tratado de Lisboa – parece que têm um poder vinculativo pior que carraça na pele de cão. Diz explicitamente que com o tempo perderemos soberania para um Governo não eleito e de prática pouco democrática. 

Pergunto-me como aliás todos . Porque razão há-se ser assim? Tudo é passível de ser emendado e rescrito. Ou não seríamos nós humanos a escrever e a representar a peça. 

Se hoje pensamos assim, e, amanhã mudamos de ideia porque não reescrever a história, se a vida é constante mudança? 

Como um dia ouvi dizer, só os burros não mudam de ideias. Só o sol não deixa de ser o centro. E a morte a deriva da vida. Tratados assinam-se e desfazem-se. Como as leis injustas. 

Esta cama europeia está com os lençóis sujos de muita putaria. Os que votaram no sim e no não, foram enganados, mal liderados, manipulados. Havia sim algo em cima da mesa que sobressaía: uma máscara que a Europa – os seus corpos/políticos dirigentes – tinham vestido e que ninguém no público gostava. Contra estes veio o voto de protesto de dezassete milhões. Uma Europa assim não. Ninguém quem nem eu. Sou uma crítica do sistema, mas sou europeia e os bretões também. 

O não pensou que seria preferível deixar a família tóxica e seguir a sua vida. Afinal pagam para a sua existência e ela nada dá em troca. Não dá? Pensem de novo. Dá segurança, dá regras para o bem colectivo, dá mobilidade, dá garante de justiça.

Há dois anos a austeridade era a moeda do dinheiro trocado nos restantes países europeus. A puta faz o serviço, o proxeneta recebe e não dá a justa parte. Toda a gente conhece como funciona o esquema. Os Bretões disseram que assim não queriam continuar a ser putas deste proxeneta. Libertemo-nos de chulos era o grito. Não queremos austeridade nem sustentar chulos. O que tem tido nestes últimos dois anos é austeridade, perda de emprego, custo de vida mais elevado, empresas que saem e um limbo que entontece. Passados dois anos tormentosos começa-se a pensar que é melhor a união das putas lutando em conjunto. Com a indecisão outros chulos espreitam na sombra. 

Afinal este continente, esta família é a precursora de uma civilização de diversas culturas – com todos os seus erros – que orienta o mundo inteiro ainda hoje. Que traz mais benefícios que dissabores. Que rege uma qualidade de vida colectiva que muito custou conseguir. Baluarte de mudanças exemplares no Humanismo. 

Os políticos são sim, uma nova classe de chulos sem espinha dorsal, vendidos ao sistema corrupto que todas as putas enfrentam globalmente. Esses venderam e entregaram a União Europeia. A perda de soberania é uma realidade. Atiram-nos o gato dizendo que é lebre. 

Ninguém hoje percebe nada do que se está a passar nesta família, mas todos opinamos. Ninguém sabe o que será uma saída deste divórcio com acordo ou sem acordo pós-nupcial. Putas e chulos estamos todos hipnotizados a ver a peça acontecer. Todos os actores vão de encontro a um muro. Cegos. 

Todos sabemos que a saída veio criar desunião, austeridade e pobreza. Todos estamos mais pobres. Quem vive no Reino-Unido sabe disto. Sente na pele. 

Mas se um milhão grita a pedir que esses chulos incompetentes – por não saberem o que fazer-lhes seja entregue de novo a decisão, não é por falta de cultura democrática e não aceitação do primeiro resultado, mas por vontade de praticar mais democracia. Porque se mudou de ideia e se quer refazer a peça. Porque se percebem os efeitos da saída antes do divórcio. Então pergunto, porque não a reconciliação para combater os chulos?

Anabela Ferreira

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