Quando Salazar é ainda hoje bem-vindo

Estamos numa encruzilhada. Apertados numa camisa de forças. Com políticos incompetentes e sem vocação. 

Lendo os resultados dos votos, incluindo os da emigração, o candidato sem ponta de democracia nos ossos tem votos com fartura. Soma meio milhão. Nalguns lugares conseguiu segundos lugares. Sendo eu uma emigrante compulsiva, já fui mandada para fora de pé por diversas vezes outras fui por vontade própria. E claro tenho uma opinião. 

A classe de emigrantes que sai de Portugal agora, nada tem a ver com a classe de emigrantes dos anos sessenta. São pessoas com escolaridade e sobretudo com acesso à informação como nunca antes na nossa História. Então como? 

Os que ficam em Portugal vêm o seu país destruído. Vivemos todos apertados numa camisa de forças. É aqui que entram em cena os oportunistas. Nada de novo. Estes aliam-se não por quererem o bem do colectivo mas apenas o poder individual. Nada de novo. E, no entanto, há quem não entenda.

Quanto mais o mundo deriva na corrupção mais os oportunistas se juntam. Alguns desses oportunistas são igualmente corruptos, fogem aos impostos, dão-se com os metralhas e os mafiosos do costume, têm contas off-shore e são devotos da nossa senhora do espectáculo e das mascaradas.

No entanto o escravo vota no capataz que o açoita para o continuar a açoitar. Como é isto possível? É! Já aconteceu antes e agora regressa.

Aprendi com a vitória desses oportunistas – os lobos vestidos de cordeiro – a não chamar ignorantes aos seus votantes. Ambos sabem o que fazem. Todos. Só que pelas razões erradas e motivações diferentes. Alguns até professam a religiões, católica, evangélica ou movimentos nova era( esta última como o fizeram os nazis). 

Os votantes nos capatazes são os zés-de-ninguém, esquecidos e espoliados, os miseráveis com sede de lei e ordem no meio do caos e da insegurança. Mas não são só os coitadinhos.

São os que sabem que também podem vir a beneficiar de um “novo” sistema de castas. São os que não querem perder privilégios. 

São também os que abdicam da liberdade e da democracia ou de um Estado de Direito que traga igualdade, desde que lhes dê segurança (ou a promessa de segurança). 

São os que escolhem uma sociedade onde existem “os nós” e “os outros”, onde “os outros” não devem co-existir, antes podem e devem ser eliminados ou recambiados para um lugar que não coloque “os nós” em risco. 

A esses “nós” juntam-se os que têm medo de perder o pouco que conseguiram obter. 

No final da receita misturam-se os perigosos – aqueles que são racistas, homofóbicos, misóginos, fascistas, machistas em busca do santo graal – o poder. Para acabar com os diferentes. Aqueles que conhecem os pontos fracos dos humanos. 

Há meio milhão deste bolo de votantes, espalhados por todas as classes profissionais em Portugal e junto dos emigrantes.

Este meio milhão não é ignorante como um todo. Muitos sabem em consciência que não querem viver junto de pretos, ciganos, gays, mulheres, imigrantes e não toleram um Estado que queira proteger os mais desfavorecidos, ou dar trabalho, saúde, educação, justiça e/ou condições dignas de vida usando o dinheiro dos impostos, a tantos dos grupos que odeiam. 

Estão a rebentar por sangue. 

Para os votantes é melhor e mais fácil odiar estes grupos em lugar de querer que a evolução da democracia se faça como deveria acontecer. Combatendo as injustiças com quem tem a ânima para o fazer. ”São todos iguais” gritam. Não, não são. Há uns mais iguais que outros e há uns que são firmemente democratas, não mentem nem vestem a pele de cordeiro. 

Para os capatazes a receita é simples. Apontam o ódio e a culpa aos grupos escolhidos. Esses são os primatas tribalistas. Feitos de manipuladores e de gente banal. Dão a vida se for preciso para que a sua tribo ganhe poder. Matam se for preciso. 

Os que aceitam o engano e a mascarada sabem que vão ao engano sem sequer pensar – e aqui entra o tanto que temos de acesso à informação – que um dia vão ser roubados, empobrecidos, roubados da segurança, da liberdade e mortos pelos que lhes acicataram o ódio. 

Ao que escolhem a casta superior julgam-se fiéis escravos de privilégios por adquirir. 

Ingenuidade, medo e pensamento mágico a anunciar uma tragédia. Contando com muitos envolvidos em teorias da conspiração (Portugal não está imune a este vírus).

Os zés-de-ninguém, os miseráveis, os nova era são a franja dos que não estão sequer com vontade de pensar. Vão com os outros. 

Os outros sabem o que fazem. Assim votaram brexit, Boris, Donald, Messias e quejandos.

Epilogando,

A minha fé está nas novas gerações. Não querem este descalabro e nós temos obrigação de não lhes deixar este legado. 

O meio milhão está certamente centrado em gente de cabeça velha que ainda não percebeu que o mundo não lhes pertence e tem medo do que é diferente. 

Meio milhão de crédulos, impostores e medrosos têm de ser percebidos antes da tragédia acontecer. 

O combate é contra esses e contra a velha história de que este capitalismo selvagem que assentou arraiais nesta divisão não tem fim nem alternativa. Tem! Tudo tem um fim.

Até só restar a vida em liberdade como condição natural dos humanos. Se evoluirmos com sabedoria por parte de quem faz política. 

Anabela Ferreira

2 comentários a “Quando Salazar é ainda hoje bem-vindo”

  1. Luis Lopes diz:

    Em suma,quanto pior melhor! Assim não gosto.

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