Queixa ao Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

Exmo. Sr. Presidente do Concelho de Admnistração

Dr. Carlos Santos,

Após contacto telefónico com os Vossos serviços, em que expus o que aqui vou referir e em que me foi apresentado um pedido de desculpas pelo sucedido, venho, por este meio, proceder à denuncia que segue.

Dia 26 do corrente, o meu pai, José Martins Maia, sofreu uma queda de mais de dois metros e meio. Decorrente desta mesma queda, foi transportado para o CHUC de ambulância.

Chegado aos serviços de urgências por volta das 20 horas, insisto na triagem para que me deixem acompanhá-lo, sendo que sou a Cuidadora Informal Principal. O meu pai é deficiente de guerra, com uma incapacidade de 80%. Tem hemiparesia na lateral esquerda, e uma placa de platina no crânio. Fez encefalite e sofre de outras patologias graves decorrentes. Tem estados de confusão que, ao dia, se encontravam agravadas pelo choque da queda. Insisti para o acompanhar, não apenas pelo estado em que se encontrava, mas porque o registo público não tem todo o historial clinico mais recente, visto que o Antigo Hospital Militar tem sido desmantelado e o atual Centro de Saúde Militar oferece poucas e más valências. Para além disso, muitas vezes quisemos recorrer a estas urgências, sendo que, nas duas últimas ocasiões, havia utentes à espera, sentados no chão da entrada do Hospital, pelo que decidi (ou senti-me constrangida, melhor dizendo!), a dirigir-me ao privado.

A minha palavra foi reiteradas vezes cortada pelo Profissional de Saúde que nos atendeu, que repetia apenas a frase de que não permitia nenhum acompanhante para não comprometer a qualidade do atendimento e dos Serviços.

Assim, não querendo perpetuar esta questão fui para casa, sendo que ninguém esperou tão pouco que tivesse a possibilidade de acalmar o meu pai ou de lhe dar uma palavra.

Passadas cinco horas fiz mais de 100 chamadas para vários números, a grande quantidade delas para o 961835797. Este seria o número para obter informações de familiares internados.

Nunca fui atendida.

Liguei mais uma vez para o número principal: 239400400.

Quando fui atendida a chamada foi reencaminhada para o serviço de urgência onde um enfermeiro de nome Fernando me comunicou que estava a perder tempo comigo em vez de estar com utentes e que tinha mais que fazer do que estar ao telefone. Desligou a chamada. Que se atente que apenas tive ocasião de dizer boa noite e de perguntar se poderia obter informações sobre o utente X.

Dada esta resposta, repito a chamada para o numero principal. Fui graciosamente atendida por uma administrativa. Tendo explicado a minha situação e a minha preocupação quanto às questões supra identificadas, passou-me para a cirurgia dizendo que não o deveria fazer e que iria ser repreendida mas que compreendia o que lhe estava a ser dito.

Ai atendida, um médico de imediato me pediu o nome do meu pai, disponibilizando-me todas as informações e tomando nota das minhas preocupações.

O meu pai teve alta por volta das 3.30 da manhã. Foi enviado para casa com paracetamol.

A caminho de casa começou a transpirar profusamente, queixando-se de grande fraqueza e de muita sede.

Estando a meu cargo a mãe e o pai, ambos com 80% de incapacidade, tive que proceder à retirada do mesmo completamente sozinha. À entrada e agarrando-se a mim, perdeu os sentidos. Entrou em hipoglicemia, tendo-me explicado, posteriormente que pedira água diversas vezes e que o pedido não fora atendido. Também nada lhe foi oferecido para comer, nem mesmo depois de todos os exames efetuados.

No dia seguinte as dores encontravam-se muito agravadas sendo que nem com medicação mais forte e que não fora passada depois de observação, cederam. Telefonei para o SNS 24 e foi-me recomendado que o levasse, novamente para as urgências, para nova observação. Dadas as circunstâncias de dores e queda, foi-me também referido ser melhor que o transporte fosse feito pelo INEM

Depois de atendido nas mesmas urgências, o meu pai tem novamente alta com o mesmo diagnóstico, mas, desta feita com medicação muito mais forte, bem como medicação para dormir durante a noite.

No entanto, quando chego apenas me entregam a receita. Exijo falar com algum responsável que me esclareça o que lhe foi feito e quais as conclusões a que chegaram. Duas médicas disponibilizaram-se para esclarecer as minhas dúvidas, pedindo desculpa, pois, quem o examinara já não se encontrava no hospital.

Tudo o que relato demonstra um negligente acompanhamento deste utente bem como uma desumanização absoluta dos cuidados de saúde prestados pelo CHUC. Deixei reclamação no Livro de Reclamações e seguirei com a mesma para as instâncias adequadas tendo toda esta situação documentada com fotografias e gravações de vídeo e voz.

Sabendo que não são apenas os CHUC que estão numa situação limite e que esta situação é extensível a muitas instituições publicas, na área da saúde, venho não só demonstrar o meu repúdio como pedir que seja acusada a receção desta reclamação.

Apesar do cansaço dos Profissionais de Saúde não posso aceitar, como Cuidadora Informal cujo reconhecimento estatal se resume a nenhum direito, e como filha de um ex combatente e dois pensionistas, que esta degradação passe sem qualquer objeção sendo que falamos de atropelos diretos aos direitos individuais e humanos de, no caso, cidadãos sénior.

Com os melhores cumprimentos

Att

Rita Joana Pinheiro Maia

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