Quem chamou a Troika? (por Jacinto Furtado)

images-3Os últimos dias têm sido marcados pela uma dúvida existencial, quem chamou a Troika?

A resposta é tão simples, ainda não houve tempo de reescrever a história, o Winston Smith ao serviço do regime ainda não chegou a essa parte. Tem andado ocupado em adulterar outros factos, como tal, os factos que ajudam a responder a esta questão estão acessíveis, disponíveis, documentados e testemunhados.

De facto a questão mais importante do momento é mesmo essa, os desempregados quer sejam os que aparecem nos números oficiais, quer sejam os que o regime enterrou na vala comum das acções de formação e dos estágios profissionais não interessam para nada.

Também não tem interesse nenhum o bárbaro aumento da pobreza em Portugal, transversal a todos os níveis etários, crianças, jovens, idosos, tudo come pela mesma medida, ou melhor, não come.

Pensões, saúde, educação, apoios sociais, o êxodo duma geração, nada disso importa.

O sentido e brutal aumento de impostos também não tem importância, não interessa falar nele porque não serviu para pagar dívida, esta, a dívida, continua a crescer.

Muito menos interessa falar das criminosas privatizações e concessões que foram feitas sem o mínimo respeito pelo interessa nacional.

O Expresso de hoje pública um interessante estudo comparativo dos resultados obtidos por este governo e o anterior. Utilizou os mesmos critérios utilizados pelos génios demagogos do PSD, o resultado é fantástico. Conseguiram a brilhante proeza de não acertar uma, conseguiram a proeza de conseguir fazer pior em todos os campos.

Mas o importante, o que é mesmo importante, é descobrir quem chamou a Troika.

Vamos por partes recordar os acontecimentos anteriores que, de traição em traição levaram à chegada da Troika, o tal bicho papão que, quando comparado com os neoliberais servis doutros interesses que não o nacional, quase parece apenas o bicho porque os papões já cá estavam.

No final do dia 10 de Março de 2011, Pedro Passos Coelho compromete-se com José Sócrates, numa reunião em São Bento, ficar ao lado do governo “numa circunstância tão complicada”. No dia seguinte Sócrates viajaria para Bruxelas para defender junto dos chefes de estado europeus o PEC IV.

Durão Barroso foi um importante protagonista na defesa do PEC IV junto do Conselho Europeu esgrimindo argumentos de suporte e de apoio. A aprovação foi conseguida tendo tido a apoio incondicional dos principais líderes europeus com especial destaque para Angela Merkel. Consideraram que o plano aprovado garantia que não seria necessária uma intervenção externa, não seria necessário chamar uma Troika.

O pior estava para chegar quando Durão Barroso recebe uma chamada telefónica com a informação de que Pedro Passos Coelho tinha roído a corda.

Angela Merkel, Nicholas Sarkozy e Jean-Claude Trichet não acharam piada nenhuma a esta facada e temem que o parlamento Português venha a chumbar o PEC atirando Portugal para uma espiral destrutiva que impediria que se salvasse pelos seus próprios meios.

Durão Barroso não baixou os braços e tentou convencer Passos Coelho do disparate que estava a cometer e das consequências que isso teria para Portugal. Não conseguiu, a decisão estava tomada, Passos Coelho tinha cobardemente cedido à chantagem do aparelho do partido, tinha decidido salvar-se a si e aos seus interesses traindo a sua palavra e atirando Portugal para o abismo.

Entre a reunião de Pedro Passos Coelho com José Sócrates e a viagem deste último para Bruxelas entra em campo novo jogador, o temível Marco António Costa, que encosta Passos à parede dando-lhe as escolher deitar o governo abaixo ou perder a liderança do partido.

Coelho não teve grandes dúvidas, olhou para o umbigo e para as mesquinhas ambições e decidiu que primeiro estava ele, depois o partido e em último Portugal.

Ainda não chegámos à parte que responde ao quem chamou a Troika, estamos ainda na parte do quem provocou a entrada da Troika.

Se após a traição palaciana de Passos Coelho a entrada da Troika, era quase inevitável, tornou-se realidade com uma nova traição.

No dia 6 de Abril de 2011, o então ministro das finanças, contra aquela que era a vontade do chefe do governo, afirma que Portugal vai pedir ajuda externa, este foi claramente o ponto de não retorno.

Tivemos um Martim Moniz que morreu entalado numa porta o que permitiu a conquista do Castelo dos Mouros (Castelo de São Jorge) e, contribuindo desta forma para o engrandecimento desta secular nação. Nove séculos passados assistimos ao oposto deste heroico gesto, no momento é que era necessário fechar a porta esta foi escancarada para uma fácil invasão de Portugal por interesses externos.

Quem abriu a porta à Troika foi Teixeira dos Santos, recentemente condecorado por Cavaco Silva. Sendo que Teixeira dos Santos era o ministro das finanças de José Sócrates será legítimo colocar a questão, foi condecorado porquê? Então não fazia parte do governo e não teria responsabilidades nas acusações feitas pela oposição da altura?

É o próprio Teixeira Santos que esclarece a questão afirmando que a condecoração é o reconhecimento por ter pedido ajuda externa. Pronto, está esclarecido.

Chegados a este ponto já sabemos quem, traindo a palavra dada, provocou a entrada da Troika, da mesma forma que sabemos quem, traindo o dever de lealdade, abriu a porta à Troika. Falta apenas a resposta à questão quem chamou a Troika?

Antes de irmos a essa resposta, vamos a mais um “pormenor”, a 31 de Março de 2011, Passos Coelho escreve a José Sócrates uma carta onde lhe garante que o PSD apoiará um eventual pedido de ajuda externa. Algo muito ao estilo, abra lá a porta que eu vou vestir o meu melhor fato e faço de porteiro.

Convêm não esquecer que durante as negociações que deram origem à assinatura do memorando de entendimento, era para o PSD factor de enorme orgulho o seu papel na entrada da Troika, o mérito e o contributo que tinham dado para o conteúdo final do memorando. Eduardo Pintelho Catroga não se cansou de o afirmar, sem eles nada se faria.

Quem de facto chamou a Troika, não na forma mas por acções foram:

Em primeiro e destacado lugar Pedro Passos Coelho com a sua palaciana traição e com a sua carta de apoio;

Em segundo mas também destacado lugar, Teixeira dos Santos com a sua traição ao dever de lealdade que lhe era devido;

Em terceiro lugar os partidos com assento parlamentar, aqueles que sabem que se deitarem o governo abaixo são os próximos e os tontos das restantes oposições que a única coisa que sabem fazer é dizer que estão contra. Não lhes perguntem contra o quê ou contra quem, são contra e pronto, as consequências que se lixem.

Finalmente a resposta à pergunta, quem (de facto) chamou a Troika?

Foi o governo de Portugal, nem de outra forma seria possível. Mas fica por responder uma outra pergunta ainda mais importante.

Quem é culpado pela entrada da Troika, quem no cumprimento do seu dever a chamou ou quem traiçoeiramente a provocou?

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