Resiliência

A dada altura do caminho, compreendemos por fim, a diferença entre desistir e não resistir.

A verdade nua, crua e dura é que não possuímos nada a que possamos chamar de nosso.

Com o tempo, tal como a fina areia que se nos escapa por entre os dedos, vão-se os afectos, os filhos, os amigos, os menos amigos, os companheiros sencientes, os bens e até o sopro de vida.

Ao longo do meu caminho, foram muitas as decisões difíceis que tive de tomar.

Na altura, seguir por aquele determinado caminho, fazer aquela escolha, era algo instintivo, no entanto não alcançava o seu sentido mais profundo, até que há algum tempo atrás, vi-me colocada perante uma situação extrema em que não existiam opções.

Mas desta feita e apesar das lágrimas e da dor, aprendi novas lições. 

O prato oferecido pela mãe e que se quebrou, não é a mãe, a mãe é toda essa riqueza afectiva que guardo no meu coração.

O gato que tive de eutanasiar… nada conseguirá apagar os nossos momentos felizes.

 A filha que se afastou, seguiu apenas o seu caminho, quem sabe voltará mais sábia!? 

Amar é, na esmagadora maioria das vezes, deixar partir.

A dada altura do caminho, já não precisamos de encontrar sentidos, sabemos que ele, o sentido da vida, existe, porém, só o iremos encontrar quando desistirmos da procura.

O caminho que escolhemos não é o mais importante, mas sim, a forma como nos predispomos a percorrê-lo.

 Aprendemos a duras penas, a ser como o bambu que se verga com a acção do vento mas que não se quebra.

Que a dinâmica da vida, é muito isso, vergar, não resistir, deixar fluir mas jamais desistir.

A dada altura do caminho, compreendemos que as mãos vão ficando vazias, que as presenças se vão preenchendo de dolorosas ausências mas que nesse processo temos o tempo como nosso aliado, porque é com o tempo que aprendemos a transfigurar essa dor lancinante e perceber que fomos capazes de seguir em frente.

Sim, as mãos vão ficando vazias mas é importante mantê-las abertas e com as palmas viradas para cima, para que tudo possa ir, voltar e fluir sem apego.

E é por esta altura do caminho que, por fim compreendemos que embora as mãos estejam vazias, o coração, esse, vai ficando cada vez mais cheio, e não será apenas isso que levaremos connosco?

Isabel Do Valle

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