Um cidadão trabalhador na área do serviço social, militante de causas cívicas e com provas dadas na defesa dos mais pobres e indefesos, José António Pinto, publica no Jornal Público um artigo de crítica à situação desses seus concidadãos.
Nesse seu texto, este cidadão exprime opiniões sobre como tem sido conduzida a política da cidade do Porto em que vive e trabalha, realçando que o desenvolvimento da urbe não deve passar apenas pela expansão, mais ou menos desenfreada, da actividade turística e da especulação imobiliária. Põe em particular a nu o escândalo do despejo de idosos e indefesos inquilinos para que as suas modestas casas possam ser demolidas e substituídas por empreendimentos imobiliários e turísticos de luxo.
O Presidente do município em causa, Rui Moreira (que gosta de se proclamar como democrata, mas não suporta a divergência de opiniões e menos ainda a crítica das suas posições), logo trata, não de rebater as ideias que considera injustas ou até erradas, mas sim de eliminar a voz incómoda. E assim, começa por procurar, junto da entidade onde o cidadão em causa trabalha, persegui-lo e atingi-lo.
Frustrada, ao menos por agora, essa tentativa, eis que se revela em pleno a falta de elevação moral de quem tanto gosta de se apresentar como virtuoso. Ao pior estilo da velha fábula do lobo e do cordeiro e do pretexto de que “se não foste tu, foi o teu pai quem turvou a água do ribeiro”, eis que encomenda a retaliação, por interposta pessoa, agora contra a mulher do cidadão incómodo. E vai daí, um Vereador do município, Fernando Paulo, que gosta de se apresentar como “Super-Vereador” e da escola de Valentim Loureiro, agindo de acordo com as ordens e/ou os interesses “presidenciais”, empenha-se em perseguir a senhora em questão, tratando de assegurar a sua demissão (já, entretanto, consumada, sem explicações) do cargo ou função que, desde há vários anos e de forma generalizadamente elogiada, vinha exercendo. E, pior ainda do que isso, quando ela procura saber – como é seu basilar direito – qual a razão ou fundamento para semelhante abuso, logo trata de a apodar de “mau carácter” e de a ameaçar com a instauração de um processo disciplinar.
Este caso lastimável evidencia bem em que “Democracia” vivemos nós, afinal, 44 anos após o 25 de Abril.
O não suportar da crítica ou da divergência, a imposição à força das “verdades oficiais”, o recurso, para procurar calar os adversários, aos meios mais indignos (do insulto mais soez e da mentira mais descarada até à perseguição pessoal, à ameaça e ao afastamento ou despedimento), a tentativa de condicionamento, pelo medo, do pensar e do agir, típicas dos regimes fascistas e ditatoriais, estão afinal aqui bem presentes, ainda que não raras vezes disfarçadas de vestes ou de palavras melífluas ou virtuosas.
O que, todavia, é ainda mais verdadeiramente preocupante é que este tipo de situações e o padrão de comportamentos e de métodos que neles é utilizado está muito longe de constituir um caso isolado. Na verdade, generalizaram-se o uso e o abuso do poder, o recurso sistemático à ameaça, à chantagem, à mentira, ao insulto e à delapidação da imagem e da dignidade daqueles que se pretendem abater. Bem como a identificação como alvos a eliminar de todos os que discordem ou simplesmente se recusem a dobrar a cerviz, logo apresentados como troublemakersou odiosos personagens ao serviço de interesses inconfessáveis e que, por isso mesmo, se “justifica” e se “legitima” que sejam tratados de forma miserável.
Nalguns casos, estes tiranetes que se julgam donos do Mundo, tratam mesmo de criar e de cultivar, muito mais cuidadosamente do que se poderia imaginar, uma determinada imagem de si próprios, desde logo uma aparência e um “estatuto” de loucura, roçando ou até ultrapassando a inimputabilidade. É o gosto pela lama da “boca”, do soundbite, do insulto mais baixo. É o cultivar de uma certa (e quase sempre estudada) pretensa imprevisibilidade de comportamentos e arrogância de quem se sente impune. É a imposição da “lógica do eucalipto”, ou seja, do queimar tudo o que mexa à sua volta até apenas restarem uns quantos vermes rastejantes que tudo lhes suportam e apoiam e a tudo (inclusivea execução das tarefas mais sujas) se sujeitam.
É, em suma, o aliar da permanente e completa falta de respeito por parte dos próprios para com todos os outros à tentativa de imposição a estes da cultura do “respeitinho”, ou seja, da subserviência e do agachamento.
Ora, estimados leitores – e aqui é que bate o ponto! – se bem olharmos em redor e mirarmos a actual realidade das empresas, dos organismos da Administração Pública, das entidades ditas de solidariedade social, dos clubes desportivos, das associações, dos partidos políticos, dos órgãos do Poder Político Central, Regional e Local, quantos e quantos exemplos daqueles não vislumbramos praticamente por toda a parte? As semelhanças de tiques, de truques, de pretextos e de métodos são imensas para onde quer que se olhe, e a verdade é que não se trata de todo de meras coincidências.
O que fazer, então, perante este verdadeiro proto-fascismo que, todos os dias, nos cerca, nos enleia e nos procura asfixiar?
Aquilo que sempre, ao longo da História, se demonstrou ser o correcto a fazer, mesmo quando o mar parece mais alto que a terra e os mestres da “gestão do medo” parecem impunes, eternos e invencíveis: resistir e lutar, sempre!
Combater todas as ideias, todas as práticas e todos os métodos errados, estejam onde estiverem, revistam-se dos mantos e das aparências de que se revestirem. Denunciar todos os opressores e todas as formas de opressão.
Desmascarar, mesmo que travestidas de verdade oficial, a mentira e a hipocrisia, bem como o insulto gratuito e a baixeza moral das atitudes. Opor à lógica da imposição do medo a firmeza serena de quem sabe de que lado está a Razão e não desiste de a defender.
Porque afinal todos e cada um de nós é que somos a Resistência.
E resistir é vencer!…
António Garcia Pereira
Deixe um comentário