Sei que o que se segue é um “testamento”! E vocês pensam… “Não há cu que aguente ler esta merda!” “A gaja tá flipada se pensa que vou ler isto até ao fim!” “Xiiii ela escreve mais palavras do que as que muitos deputados dizem durante anos no parlamento!”…
Peço-vos que leiam até ao fim e ajudem a realizar um dos poucos sonhos que me restam…
Várias vezes escrevi sobre sonhos, talvez por ser a única coisa que me alimenta e pela qual ainda não pagamos. Mas, à medida que o tempo passa, aprendemos que os pagamentos não implicam só dinheiro e que seguir um sonho nos pode sair muito caro quando ninguém o entende e por ele perdemos amizades, amores, tempo, e muitas vezes a alma.
Cresci a ouvir dizer “ Se sonhares, sonha mais alto”, então eu sonhava… Sonhava que iria ganhar a lotaria, o euromilhões, um concurso qualquer de uma fábrica de gomas cujo prémio seria um stock vitalício e sonhava que um dia me iria cruzar com o Johnny Depp e ele se iria apaixonar perdidamente assim que me visse.
Sonhei sempre mais alto, tão alto que deixei de ver os sonhos porque se esqueceram de me dizer que eu tinha que crescer tão alto quanto eles e a sociedade amarrou-me ao chão.
Por isso, eles ficaram lá em cima, eu cá em baixo e agora contento-me se ganhar 2€ numa raspadinha e com esse dinheiro conseguir comprar um saco de gomas.
Mas, há um sonho que nunca perco de vista, o de ser escritora. Gosto de escrever, sinto-me bem quando o faço e deixo que as palavras me levem para longe daqui, para um sítio onde os Coelhos são fofinhos, o Seguro é algo que morreu de velho e Relvas é aquilo que cobre o chão onde rebolo.
Como qualquer “pseudo-escritor”, aventuro-me nos concursos de escrita. E perguntam-me vocês porquê? Olhem, porque gosto de gastar dinheiro em impressões, pens, encadernações e envios em correio azul registado. Eu sei, esse dinheiro é mais bem empregue a jogar no euromilhões e, neste país, as probabilidades de ganhar são bem maiores.
Quem me conhece sabe que o que mais gosto de escrever são histórias infantis e isso levou-me a participar no concurso do Pingo Doce cujo prémio era a publicação da obra e 25 000€ para a escrita e outros 25 000€ para a ilustração. Ao meu lado, nesta aventura, estiveram pessoas que adoro, que comigo sonharam e me proporcionaram horas de debate e criatividade enquanto as histórias surgiam. Obrigado a vocês que alinham nas minhas loucuras.
A sede de participar foi tanta que nos esquecemos de ler bem o regulamento. Quando acalmei de toda a excitação li-o com calma. E, qual não é o meu espanto ao ler o artigo 9 “Por um método ainda a definir o PG só era entregar 100 contos para os júris avaliarem, blá blá blá blá”…
Por um método ainda a definir? Será que alguém me ajuda nisto… Terá sido a D. Carmelita da “ServiLimpa” que nas horas vagas lia os títulos e escolhia os que lhe faziam lembrar os detergentes que usa na limpeza? Ou terá sido o Sr. Zé da portaria que para disfarçar punha os textos a tapar a parte dos classificados porno dos jornais para que ninguém percebesse que as únicas histórias que gosta de ler resumem-se a “Loira gostosa, 42 copa c, completa, atende ao domicílio”.
Por favor não pensem que menosprezo profissões e coloco em causa conhecimentos, até porque já percebemos que existem deputadas, com mestrados, que não “tuleram” e ameaçam “bloquiar” pessoas que tecem comentários menos próprios.
Depois do concurso do PG, um amigo, que conhece bem a minha relação amorosa e doentia com a escrita, enviou-me um link de uma página de facebook que continha vários concursos. A única coisa que pediam para participação era o envio do email.
Hummmmmmm… Não é necessário o envio do texto? Estranhei, mas enviei o email a pedir mais informações e qual não é o meu espanto quando o escritor da moda, Pedro Chagas Freitas, assina um email de resposta em que se está a cagar para o que escrevo mas pede 25€ (que passou agora a 35€, deve ser por já terem mais de 14 000 likes na página) para participar no concurso e se quiser uma critica à obra tenho que pagar mais 50€!
Epppa, dado o nº de likes na página certamente é só a mim que tais valores e condições me fazem comichão e confusão.
Por detrás do PCF está a Chiado Editora preocupada em dar voz aos escritores… Aos escritores que paguem… Vamos lá a contas, sim isto da escrita também envolve matemática, se 1000 pessoas participarem (e acreditem que é um nº bem real) na “modalidade básica”, sem quererem a crítica ao livro, o PCF e a CE metem ao bolso 25 000€. Do que sei, isso é suficiente para publicarem vários livros.
Mas isto é o meu mau feitio a falar, até porque o Pedro Chagas Freitas escreve coisas lindíssimas do estilo “vivi a teu lado 3927 dias e precisei de te perder para saber o quanto te amava”… Minhas queridas leitoras vamos descer à terra, até porque já se percebeu onde vão dar os sonhos que sobem demais, a única coisa que um homem comum conta é a quantidade de vezes que “partia a tranca” à rapariga de 16 anos que passou em frente ao café no intervalo do jogo de futebol.
Pronto eu sei, o PCF escreve bem e até diz umas coisas bonitas. Mas, epppa não dá…
Não posso enganar um pessoa dizendo-lhe que lhe vou ensinar a fazer algo para a qual ela não nasceu, mas também não posso dizer-lhe “Tem a certeza que quer ser escritor? Olhe que a apicultura é mais engraçada e se pensar bem os escritores não batem a bola toda porque grande parte deles se mata”.
O verdadeiro escritor, escreve com a alma, despe-se de tudo o que o protege e expõe-se. E isso não se ensina… Sente-se e aprende-se a fortalecer e proteger com as armas que nos dão…. Um verdadeiro escritor não ensina a escrever, ensina a fazerem os sonhos crescer…
Obrigado por terem lido. Ao fazerem-no senti-me um pouco mais escritora e “Sonhei… Sonhei mais alto!”.
Ana Luísa Pais
Gostei! 😉
Não sei se a Ana Luísa, irá ler o meu comentário, mas a verdade é que ao acabar de ler o texto acima, senti de repente o impulso de a conhecer.
É difícil, nas primeiras frases, conseguir motivar e cativar até ao último ponto final, mas a verdade é que comigo foi o que aconteceu.
Na verdade, e desde que me de mim tenho memória, sou uma leitora compulsiva, fruto da modesta, mas variada biblioteca lá de casa.
Para além de sonhadora, adorei o humor irónico e verdadeiro, assim como a clareza das ideias e a pureza da determinação.
Claro que não sou critica nenhuma, mas devorei as palavras e fez-me sorrir pela caricatura verdadeira do estado deste belo país à beira mar plantado.
Acredite que li cada letra e senti o carinho das suas palavras. Obrigada Fatima Silva. Pelo carinho, pelas palavras e por sonhar mais alto a meu lado.
Não poderia só ter sonhado em ser piloto de avião? estaria nas alturas. rsrs