Senhor Picasso, (carta sobre a exposição de escultura em exibição no Bozar em Bruxelas)

Adoro Guernica. Uma obra que fala e que mexe com as emoções. Digo eu, uma ignorante sobre arte (sem ironia), apenas penso que a arte deve fazer isto: enaltecer o belo, trazer emoções à tona e fazer-nos vibrar com elas. É sempre assim que vejo as suas diversas manifestações.

Tirando Guernica, não sou uma apreciadora nata da sua pintura. Gosto de alguns retratos (poucos). Não sabendo o que esperar, fui de espírito aberto ver as suas esculturas. Este é apenas um lamento feito desgosto. Desculpe-me a desfaçatez e veleidade em escrever-lhe para o céu a explicar as razões do mesmo, vinda de uma inculta.

Se tiver conta aqui na rede, quando entrar vai dar com esta crítica e desamigar-me, eu sei.

Mas eu explico-lhe as minhas razões senhor Picasso. Gosto intensamente de outros seus pares. Sento-me em frente ao Pensador de Rodin e fico a tarde inteira a pensar para ele. Olho para a Rapariga com o Brinco de Pérola de Vermeer e perco-me no seu olhar imaginando uma história. Entre tantos outros exemplos.

Mas, repito, não querendo ter preconceitos e abrindo o meu leque de conhecimento, fui visitar a sua exposição de esculturas. Sabe, adoro escultura e sendo de Picasso…certamente que iria ficar pasmada e passar a olhar para o criador de um estilo único com outros olhos.

E fiquei pasmada sim senhor Picasso. Assim como aquela pintura de Munch. De boca aberta quase a gritar. De espanto.

Permita-me um parêntesis contextual. Saiba que sou uma artista conceptual nula. Ou seja não sei desenhar rigorosamente nada. Talvez eu seja uma cubista nata no traço desacertado.

Nem sequer faço bem um círculo ou sequer pinto correctamente dentro de linhas. Conheço crianças que com três anos são melhores do que eu. Trabalhar com as mãos só se for para cortar legumes para a sopa e mesmo esses ficam com feitios estranhos. Sou incapaz de pregar um prego sem fazer cair a parede mestra da casa. É esta a minha capacidade para estas artes.

Mas tenho vários amigos artistas. Na cerâmica, na escultura. Em África (continente cuja arte o influenciou) já vi crianças e adultos fazerem trabalhos com diversos materiais e com as mãos que me deixam siderada de admiração. Produzem pinturas e peças que me obrigam a sentar e ficar a admirá-las por horas. Levá-las-ia para casa para estarem sob o meu olhar de permanente espanto.

Nesta sua exposição o espanto era ao contrário. Mas em que Pensava Picasso quando fez isto? Mas o que é isto? Credo? Estou a pagar para ver isto? Falo de esculturas horrendas, assustadoras, de seres com diversos tumores, e por exemplo, um corpo de mulher que mais parecia um longo cocó que secou e ali ficou.

Numa delas – uma caixa com 2 botões um ao lado do outro, imaginei que seria uma réplica da caixa de costura da sua tia-avó – qual não foi o meu espanto ao ler que era uma cabeça de mulher.

O quê? Ah pois…um cubo…

Se tivesse uma ponta e mola tinha logo ali cortado os pulsos.

Fustiguei-me “és tão ignorante, tão burra, então não se vê que é uma cabeça de mulher…”.
Senhor Picasso, odiava assim tanto mulheres? É que algumas das suas representações são o absurdo e feio elevado a um grau indescritível. Que arte estranha. Que conceitos marados!
Vão dizer- “marada és tu” que não entendes nada. Aceito.

Mas toda aquela feiura nem sequer era como a água tónica que se “aprende a gostar”. Não, a maior parte das esculturas são “pointless”. Parece que estava a brincar, chateava-se com a peça e toca de a monstrificar ou deixar inacabada.

Ou para ganhar dinheiro com um cromo ceguinho ou novo-rico deslumbrado, que a achasse “fantástica” só porque tinha a sua assinatura. Vou mais por aqui…

Algumas peças fizeram-me lembrar aqueles artistas modernos que estão a fazer cocó no palco enquanto os visitantes observam. Chamam-lhe arte… Eu chamo-lhe fazer cocó em palco. E não é bonito, nem é arte. É um acto humano íntimo que até pode cheirar mal.

Ou terei ficado doida por não saber apreciar Picasso?

Tirando a sua primeira escultura – pequena e absolutamente grandiosa, A Mulher sentada – e pouco mais (havia uma cadeira muito engraçada e vanguardista) saí tremendamente desapontada.

A peça que francamente me fez ficar encantada e a observá-la em pormenor e vários ângulos foi uma escultura africana detalhadíssima e perfeita.

Fui ler a legenda e era de um senhor (a)chamado anónimo, da Nigéria…e fazia parte da sua colecção privada.
Eisshh, um tiro no pé!

Ir ver as suas obras ao BOZAR custou-me €18,00. Para a próxima gastarei melhor num concerto ou num disco, ou numa peça feita por um destes artistas meus amigos que estão nos antípodas da fama e do proveito. Ou em livros.

Foi uma experiência falhada ou não fosse trazer material para uma crónica. Se calhar não é correcto desfazer-me assim de tão grande nome e ilustre artista com alguma obra tão bela – até porque a minha verdade e conceito de beleza não interessa a ninguém- mas sou uma defensora da arte e da beleza e esta última, infelizmente, foi o que pouco encontrei na exposição de parte das suas esculturas.

Adeus Senhor Picasso, até um dia no céu, para me explicar as suas ideias sobre certas monstruosidades que vi e me ensinar a desenhar e a esculpir. Obrigada por ler uma sua não fã.

Anabela Ferreira

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *