Sexo, mentiras e avé-marias

Não tenhas medo, vou-te contar uma história de amor, quero que feches os olhos, deixa que eu te conduza, estás aqui em segurança comigo,vais fazer o que eu te disser, não tenhas medo, vais ver que é fácil, isso, sentes a minha mão não sentes?

Dá-me a tua mão, sentes como me sinto, isso? Este é o teu poder, é assim como me deixas, este é o nosso segredo, aqui me tens nas tuas mãos, vou mudar a tua vida para melhor, vais ficar a entender o que te posso dar em troca daquilo que tu me podes fazer, nunca te vou trair e tu nunca me vais trair, este segredo é nosso, só nosso, ninguém pode saber a não ser deus, que nos vê e nos abençoa, percebes?

Vamos rezar uma avé-maria, experimenta como se fosse um gelado, será sempre tão natural, tão frequente que se tornará normal, eu quero, tu queres, nós queremos, nós gostamos, baixa as tuas calças, não estamos a cometer um pecado, estamos a ter pensamentos naturais, dobra-te, fecha os olhos, se disseres a alguém, ninguém vai acreditar e serás castigado…

o que precisas para ficar calado?

A conversa é um diálogo inventado, baseado num diálogo real com uma vítima.

Podia ter ocorrido entre o Bispo Nobel da Paz Dom Ximenes Belo antes de rezar a missa de domingo na sua paróquia e uma criança de oito anos a ser abusada sexualmente.

Só entendo a protecção da Igreja a pedófilos por esta ser para estes um paraíso seguro. Dentro das suas frias portas sentem-se protegidos, é o lugar onde podem não apenas esconder os seus actos e pensamentos pecaminosos como cometer impunemente os seus crimes.

Afinal nela os seus pares têm todo o interesse em esconder o crime, por serem irmãos de sangue no mesmo crime. Essa é a natureza humana de um pedófilo, que nunca será diferente.

Só poderá receber a simpatia de outros como ele e destes receber a constante negação e manipulação, desacreditando as vítimas.

E uma vítima não é nem credível, nem deve ser ouvida, nem vista. O padre além de figura respeitável, inatacável, acima de desejos terrenos, tem a protecção divina, logo, negar e rejeitar a acusação é a sua explicação.

A Igreja precisa reparar os crimes e agir em consonância com a palavra e os dogmas que pregam. Se a Igreja fosse decente, tomava medidas de criminalização dos seus padres pedófilos de imediato, em lugar de procurarem controlar os danos. Confirmando a veracidade das histórias das vítimas atribuindo-lhes a credibilidade que têm. Porém, parece que desejamos o impensável, como colectivo.

Em muitas situações a Igreja paga em silêncio avultadas quantias, o silêncio da vítima. Protegendo o criminoso.

Mas o deus que invocam sofre de stress pós-traumático, como as vítimas. Anda a comprimidos para viver adormecido. Nem ele quer acreditar no que fazem em seu nome.

Católicos, se amam as vossas crianças, protejam-nas. Não deixem a vossa Igreja safar-se deste horrendo crime, que as fará como vítimas, carregar uma pesada cruz, para toda a vida.–

Anabela Ferreira

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