Somos todos Luaty porque Luaty é cada um de nós (por Anabela Ferreira)

10733733_10207334695343580_6109339653061342522_o26 dias em greve de fome. Luaty Beirão piora a sua situação e foi hoje transferido para uma clínica onde está em observação. Só volta a comer se for em liberdade segundo o seu advogado.
É imperiosa a liberdade imediata de Luaty este perigoso revolucionário, que tanto medo está a provocar a um regime que se diz Estado de direito.
Detido sem culpa formada para lá do tempo permitido por lei à prisão preventiva (90 dias- inicio a 20 de Junho). Este é o facto comum aos activistas. O perigoso revolucionário Luaty oferece a vida em nome da sua liberdade e dos restantes activistas. 

Em nome do seu país que um dia não muito distante viu jovens morrerem porque clamavam a liberdade para a sua pátria Angola. Esta Nação viu também jovens prepararem golpes para chegarem ao poder. Alguns desses jovens são hoje velhos, ainda hoje se mantêm no poder e dele nem admitem sair. Nem que concidadãos seus morram. 

Ora essa! Era o que faltava!

Estes perigosos jovens são suspeitos mas sem culpa formada, de conspirar um golpe de Estado com o apoio de forças externas…(e Luaty dá a sua vida a troco de quê? ser herói para a eternidade? Ou virá a receber um poço de petróleo numa off shore?).
Insultem-nos a inteligência que eu gosto.
Fica a minha questão: 

Há ainda alguém de bom senso nalguma parte do planeta que pense que um estado deve deixar morrer um seu cidadão que pede a liberdade que tem legalmente direito, e, aguardar do que quer que venha a ser acusado e julgado?

Luaty envolve-se há muito na política como cidadão atento e empenhado em ver o seu país melhor. Tal como muitos de nós. Felizmente. Deve pagar estas consequências?
 
Hoje foi publicada no Novo Jornal a seguinte carta, escrita pelo Dr. Luís Bernardino, para o Luaty Beirão. Foi também crido um evento no  Facebook com o objectivo de recolher assinaturas de todos os que quiserem apoiar a mensagem. 

CARTA AO LUATY BEIRÃO DO DR. LUÍS BERNARDINO

Nós, os subscritores desta carta, estamos em vários sectores da vida do nosso País, somos diferentes uns dos outros em muitas coisas, mas todos temos em comum valores fundamentais: liberdade, respeito pelos outros, solidariedade social até ao altruísmo, coerência. Este texto não se afastará destes princípios universais, por isso esta é uma mensagem que podia ser subscrita por qualquer Homem de boa vontade, aonde quer que esteja.
1. Começamos por lembrar que o nosso País, Angola, precisa, mais do que nunca, de jovens, e tu és um jovem; de pessoas com apurada preparação técnica e profissional – e este é o teu caso; de gente com grande sensibilidade aos problemas sociais do nosso Povo: assim és tu; de alguém com grande idoneidade e elevados princípios morais – e para quem conhece as tuas opções na vida e o teu quotidiano Angolano e acompanha o que se tem passado nos últimos 25 dias, esta é mais uma descrição da tua pessoa. Portanto o teu perfil é o do cidadão exemplar de que Angola precisa para ser uma nação feliz e próspera. Não nos podes faltar: a nós e a Angola!2. Vamos abstrair-nos das causas que motivaram a vossa prisão (para nos mantermos na tónica dos universais): após três meses de prisão preventiva, a investigação terá sido feita, um processo de acusação foi elaborado e não foram aduzidas razões para manter, excepcionalmente, a prisão preventiva. À luz do Direito Angolano vocês deviam ter sido libertos, aguardando julgamento. A manutenção das medidas coercivas só pode explicar-se por uma “vendeta” do Executivo, que quer punir (extrajudicialmente) os jovens que têm posto em causa a governação do Presidente da Republica;3. Contra esta prepotência que deixa transparecer com clareza a submissão do poder judiciário ao político, vocês reagiram iniciando uma greve da fome, na qual só tu persistes, provavelmente por grande força ideológica e por um princípio nobre de coerência e respeito por ti próprio.4. Porque sabemos que a tua fibra de lutador te tem tornado inflexível mesmo perante os entes mais queridos que te têm rogado para cessares algo que cada vez mais te pode ser fatal; porque sabemos que o poder, ou pelo menos um certo poder, é por definição insensível – nós, no domí- nio dos princípios e da coerência a que dás prioridade, argumentamos que ao prolongares esse comportamento até às últimas consequências, estás a enfraquecer o campo dos que pensam como tu, estás a deixar sem resposta as acusações que te fizeram, estás, em resumo, a desistir da tua luta, ainda que de uma forma heróica.

5. Mas como referiu o escritor Moçambicano Mia Couto, numa recente homenagem com a presença do seu Presidente da Republica: “… Infeliz é o País que precisa de heróis …” O ideal é não precisarmos de heróis e muito menos de mártires… Queremos, sim ter a todo o momento, cidadãos exemplares na luta diária pela Democracia e pelo Bem do Povo Angolano. E tu és exemplar entre os exemplares.

Querido Luaty, queremos com esta mensagem desobrigar-te do teu compromisso. Rogamos-te para que termines a tua greve, para recuperares a tua força física e juntar-te a NÓS.”

Luís Bernardino, Médico

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *