Súmula

“O mágico fez um gesto e desapareceu a fome, fez outro e desapareceu a injustiça, fez um terceiro e desapareceram as guerras. O político fez um gesto e desapareceu o mágico.” 

Woody Allen.

Tenho escrito sobre a impunidade de grupo ao longo desta pandemia (e não apenas), não aquela provocada pelo vírus, mas aquela provocada pelo gesto que desintegra a democracia – a corrupção vinda de um grupo de homens, de uma estrutura feita de e por homens (género masculino), construída e perpetuada por eles. 

Há muito que a justiça falha redondamente. Falha aos pobres, aos não privilegiados, aos grupos de minorias étnicas, às vítimas de crimes de ódio pela cor da pele, às mulheres vítimas da violência destes homens. 

Há muito que os legisladores falham redondamente. Há muito que os políticos se mercadejaram e fizeram desaparecer o mágico. 

Há muito que a impunidade segue e soma. Há muito que a cama está sebenta de tanta orgia que deixa líquidos esponjosos, limpos com uma esponja mágica, pelas mãos sujas dos chulos privilegiados.

Ainda não ouvi mulheres na política falarem sobre esta mesma impunidade masculina. Quero ouvir mais. Quero ver o sistema cair, a estrutura desmoronar-se. 

Vivo para ver os venturas tão corruptos e vergonhosos uns quanto outros caírem com vergonha, estrondo e violência, neste sistema que a pandemia (o sistema e a estrutura corruptos) tem destapado.

Só há um caminho de reconstrução por entre a desconstrução que está a acontecer a este grupo de homens (género masculino) que estruturou e sistematizou a impunidade. Há um grupo de privilegiados e brancos no banco dos réus. São homens. Falharam, acabaram. Tem de ser. 

Deixam por onde passam um rasto das suas falhas neste sistema obsoleto e maligno. Espalharam metástases. Passaram por África, entregaram o sistema que é hoje o espelho deste grupo. 

Chama-se patriarcado na cama com a corrupção. 

Acredito na democracia. E acredito que para ela sobreviver, estando já no ventilador, é necessário fazer cair o sistema, a estrutura, os privilégios dos homens (género masculino). 

A democracia parece a beleza a céu aberto de Roma. Está em processo de reestruturação em curso (prec). 

Precisa de todos os homens e mulheres que querem novo sistema, com novas estruturas. Estamos agora finalmente indignados. 

Nunca vi a mesma indignação quando homens batem ou matam mulheres e os juízes mandam soltar os criminosos. Nunca vi tamanha indignação sobre crimes de racismo. 

Isto é sintomático da grave doença provocada por este grupo de homens privilegiados. 

É preciso reunir os que mais amam os seus escombros (da democracia) para a reerguer. 

Fazer uma cintura sanitária de segurança ao seu redor, não deixar entrar quem lhe queira provocar ainda mais danos, restaurar-lhe a beleza e dignificá-la. 

A democracia deve ser a relação de amor com fracturas expostas que vale a pena ser restaurada e reestruturada com um novo sistema. 

Todos os impérios e sistemas de destruição da Humanidade já ruíram um dia. 

A verdade aparece sempre. Por mais que tentem esconder, fazer propaganda reversa, psicologia dissonante, criando mitologia ou versões angelicais e grandiosas pintadas em talha doirada. 

O tempo destes homens (género masculino) que construíram estes impérios, o colonialismo, o racismo, o fascismo, regimes, sistemas, estruturas, ladroagem, pactos e outros concluios escancaram-se, desmoronam-se e está a acabar. Assim reza a História. 

Só as vidas destes homens privilegiados tem contado. 

A mudança é inevitável. 

Nós as mágicas e os mágicos prontos a fazê-los desaparecer estamos presentes. 

Imutável é a morte. Só.

Anabela Ferreira

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