Tenho uma história para contar

Hoje tenho uma história para contar. É pesada, violenta e faz mal às entranhas. 

Conta a história de um homicídio cometido por um grupo de amigos, que tinham almoçado todos juntos a 10 de Junho de 1995. MM estava presente. 

A vítima foi o jovem Alcindo Monteiro. Saiu da outra margem do rio para celebrar com os amigos o dia feriado.

Um ser humano jovem, bondoso, amigo, trabalhador, equilibrado, honrado, digno, em tudo diferente dos seus atacantes. 

Os amigos que almoçaram na mesa de MM – já com diversas tentativas de branqueamento por parte de tv´s e jornais pós penas criminais – partilham uma crença intolerante. 

Todos mostram os traços característicos de psicopatas, narcisistas, com delírios de grandeza, falta de empatia em todas as células que compõe os seus corpos indignos de se qualificarem como humanos. MM faz parte do grupo.

São casos de estudo sobre a abjecção, ou deverei dizer antes – o humanóide que deu errado (o mundo está pejado deles) – ou usando as palavras do Professor António Damásio “ o erro de Descartes”. 

Nem todos os que existem, pensam. 

A história conta-se no Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça que condenou os amigos em 1997.

“Os arguidos estão ligados ao movimento de Skinheads em Portugal. Este grupo de pessoas tem em comum o culto por determinadas ideias – nacionalismo e racismo – com as quais, de uma forma mais ou menos interiorizada, simpatizam. Exaltam o nacionalismo, o fascismo e o nazismo. Salazar e o seu regime são apontados como um modelo a seguir. A vertente racista está sempre presente. Apelam a superioridade da raça branca considerando a raça negra como raça inferior. Em termos gerais, de acordo com uma política a que chamam ‘racialismo’ não admitem a mistura de raças; são contra a imigração para Portugal de indivíduos de raça negra, nomeadamente os originários das ex-colónias. Defendem a expulsão do território nacional de todos os indivíduos de raça negra e para atingirem esse fim e em nome da ‘Nação’ e da ‘superioridade da raça branca’ acham legítimas todas as agressões contra esse grupo de indivíduos”.

Alcindo Monteiro, um Cabo-Verdiano com 27 anos não sabia que o seu destino se iria cruzar com estes seres sub-humanos, e nesse encontro casual, numa rua da Baixa Lisboeta com Pessoa e Camões na vizinhança lembrando a superioridade e a universalidade da mente humana, incompreensível para estas figuras de carne e osso, a perda da vida de Alcindo ficaria selada por cima de atroz violência, cometida por estes seres, incapazes de viver em sociedade sem causar mal a outros seres humanos. 

A pena seria de ficarem fechados para sempre, longe de contacto com pessoas. Soltos, irão repetir acções malignas sobre outros seres à sua escolha – os que odeiam. 

Quem nasce com deformações num cérebro com estes traços nunca se regenera nem transforma. Perceber isto é fundamental. 

Se Deus existe, só pode ser louco, porque se enganou no molde. A sua imagem e semelhança é de um erro infeliz. Por sermos um erro, falhámos todos, no espelho que é a nossa justiça, feita pelos homens ao soltar estas pessoas.

Eram 17 os arguidos envolvidos na morte de Alcindo. Seguem-se as palavras de MªJoão Clemente e do Acórdão so Supremo:

“11 condenados por homicídio, punidos com penas de prisão entre 16 anos e meio e 18 anos. Os restantes, entre os quais Mário Machado, à data 2º Cabo da Polícia Aérea da Força Aérea Portuguesa, foram condenados por agressões a penas entre três anos e meio e quatro anos e nove meses. Ficou estipulado o pagamento de 18 mil contos à família de Alcindo Monteiro. Os pais já morreram, o dinheiro nunca foi pago.

Quanto a Machado, ao longo do acórdão é-lhe atribuída a posse de um “pau semelhante a um taco de baseball” e, em co-autoria material e concurso real, cinco crimes de ofensas corporais com dolo de perigo. Uma delas com o referido objeto, como se pode ler no acórdão, acompanhadas de gritos e ofensas: “Enquanto agrediam o ofendido, estes 15 arguidos iam gritando: ‘Este é preto, mata-o!’; ‘Filho da puta’; ‘Preto’; ‘Vai para a tua terra que isto aqui não é lugar para ti'”.

Machado é descrito, a par com a maioria dos restantes envolvidos, como delinquente primário que denota “completa ausência de arrependimento”. A violência das agressões e do homicídio ficou, de resto, comprovada. “Bem sabiam os arguidos intervenientes em cada uma das agressões a ofendidos acima descritas que os objetos que utilizaram (soqueiras, paus, botas militares e outras com biqueiras em aço, garrafas partidas, ferros) revestem características que, quando usados da forma referida, são aptos a causar lesões susceptíveis de provocar a morte aos atingidos ou colocá-los em risco de vida ou de causar uma grave ofensa à sua integridade física. E que todos iriam fazer uso desses objetos, o que queriam, conformando-se com o resultado das agressões praticadas com os mesmos”.”

Releiam para que as palavras penetrem profundamente na carne, até aos ossos. Lembrem-se que há gente com estes traços e características na Justiça, nas Polícias, na Assembleia da República, na Banca, e por aí fora. 

Regressando ao presente, MM o homem que foi preso e condenado na participação do homicídio de Alcindo Monteiro, é referido como um homem sem “qualquer arrependimento”, características de um narcisista e psicopata (digo eu que não sendo psicóloga posso dar opinião pessoal), diz-se ofendido na sua honra (o que me obriga a questionar qual a sua parte que a tem – se se situa entre as pauladas que deu e os nomes que chamou ao Alcindo, como refere o Acórdão), por ter sido chamado de assassino, por Mamadou Ba. 

Segundo o Acórdão, não me restam dúvidas sobre a palavra, acção e pensamento do inominável desonrado. 

Claro que como quer ser o centro das atenções (e não honrado- porque até ofende a palavra e as pessoas honradas), inicia uma acção por difamação. 

Ontem o juiz Carlos Alexandre concedeu-lhe a graça e Mamadou Ba vai ter de ser sujeito a julgamento por expressar a verdade em forma de opinião.

Em nada ofende o suposto ofendido, por ser verdade. 

Será a oportunidade de ouro de irmos todos -.os que têm honra e são de facto de bem –  dizer para a porta do tribunal que MM é descrito no acórdão:

– “em co-autoria material e concurso real, cinco crimes de ofensas corporais com dolo de perigo”…”como delinquente primário que denota “completa ausência de arrependimento”. A violência das agressões e do homicídio ficou, de resto, comprovada. “Bem sabiam os arguidos intervenientes em cada uma das agressões a ofendidos acima descritas que os objetos que utilizaram (soqueiras, paus, botas militares e outras com biqueiras em aço, garrafas partidas, ferros) revestem características que, quando usados da forma referida, são aptos a causar lesões susceptíveis de provocar a morte aos atingidos ou colocá-los em risco de vida ou de causar uma grave ofensa à sua integridade física. E que todos iriam fazer uso desses objetos, o que queriam, conformando-se com o resultado das agressões praticadas com os mesmos”.

No mesmo dia, o homem da nova versão em Portugal dos neo-fascistas, racistas e poucochinhos, também ele um narcisista desejoso de atenção e poder, que nem um osso tem de bem no seu corpo, vê o processo por difamação colocado por Fernando Rosas, o historiador e fundador do BE, por “sequestrar e torturar homens e mulheres em 1976” ser arquivado. 

E esta hem? Diria Peça.

A justiça no seu tecido, na sua coutada bafienta, não é cega, vê muito bem as cores. 

Se perceberem as diferenças entre os dois processos, recebem uma filigrana para colocar na sinapse que vos liga à cognição de Descartes. 

A psicologia explica ambos. Tanto AV quanto MM são um erro.

Anabela Ferreira

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