São conhecidas as vezes que em diversos países com regimes pouco democráticos certas acções tacticas são concebidas, por forma a justificar posteriormente um aumento musculado da repressão, alterando leis vigentes de protecção de direitos dos cidadãos e produzindo outras para legalizar as arbitrariedades. O caso mais típico foi justamente no país dos “campeões da democracia”, a seguir ao ‘nine eleven’ em NYC cuja verdade total permanece oculta para além da versão oficial do senhor G.W. Bush, e onde passou a haver restrições severas de liberdade com infinitas prisões sem culpa formada, torturas consentidas e agora confirmadas por B. Obama, correspondência violada, escutas telefónicas abusivas não ordenadas por juízes, a implementação de sistemas sofisticados para espiar correspondência electrónica, a invasão da privacidade, etc etc etc, como se se estivesse numa nova ordem excepcional onde tudo é permitido e a coberto de (novas) leis que caucionam uma ditadura camuflada de democracia.
Neste caso em Paris, começa a dizer-se na imprensa francesa e replicada pela estrangeira, que o ataque foi muito profissional. Eu não concordo. O que eu acho é que foi tudo muito fácil porque não foram accionados os mecanismos de reacção existentes para uma intervenção rápida das forças policiais de elite já experimentadas em outras ocasiões menos graves, que podiam fazer um cerco imediato da área e bloquear as saídas do bairro, e até a consequente acção armada de resposta ao ataque, sobretudo se tivermos em conta a existência de esquadras da polícia na proximidade das instalações da Charlie Hebdo, com todos os meios disponíveis, sabendo-se também que àquela hora confirmadamente sobrevoavam Paris vários helicópteros da polícia em missão rotineira de vigilância, que nem sequer perseguiram a viatura dos terroristas porque ninguém comunicou com eles a informar do que estava a acontecer. Tudo se passou de maneira muito fácil, até porque se sabe também que o director da Charlie Hebdo tinha um gendarme destacado pela polícia como guarda-costas e este obrigatoriamente tinha de ter um contacto privilegiado para um SOS se algo de grave lhe acontecesse a ele ou à pessoa sob protecção.
A escolha do alvo parece ter sido vantajosamente bem escolhido e as intenções com fundamentos religiosos também, dado o histórico de ataques atribuídos a fundamentalistas islâmicos em vezes anteriores ao jornal satírico e assim podendo ser logicamente atribuído com as mesmas motivações. A fuga dos ditos terroristas mais se assemelhou a um passeio pelas ruas da cidade em marcha apressada, sem qualquer perseguição policial. Muita coisa não está esclarecida e provavelmente nunca será, como por exemplo por que razão se deixou plantado um documento que dizem ter sido encontrado horas depois pela polícia no carro Citröen C3 abandonado, o mesmo em que os autores materiais do atentado terrorista se puseram em fuga, de maneira que fossem “identificados” com rapidez. Só de propósito. Não é passível de se admitir que comandos operacionais muito bem treinados fossem para uma operação deste tipo com documentos pessoais no bolso e se “esquecessem” deles no carro roubado para facilmente serem localizados.
O que é espantoso, é sabermos agora do historial completo de Chérif Kouachi através de artigos de jornais como o Le point, Le Figaro, Le Monde, Le Parisien, o Liberation e replicados por outros em todo o mundo, desde a sua vida em França, os tempos de escola, a família, os seus vizinhos e amigos, a passagem pelo Iraque e pela Síria, os treinos militares, organizações onde esteve inserido, as prisões e as condenações, os gostos pessoais, os locais mais frequentados, os encontros com as mulheres com quem teve relações, enfim um manancial completo de informação sobre o mesmo que mais parece – e só pode ser – um dossier fornecido pela polícia que o considera perigosíssimo (e até contendo transcrições de escutas telefónicas), e tenha tido apesar disso toda a liberdade para circular sem uma vigilância apertada ao ponto de cometer com o maior à vontade e na companhia do seu irmão, um atentado desta envergadura com armas militares do tipo Kalashnikov.
Sem qualquer dúvida que foi um tenebroso atentado terrorista, mas fica por enquanto por se saber efectivamente que interesses e quem realmente está por detrás disso e com que objectivos, e se tem na verdade alguma coisa a ver com religiões fundamentalistas. Quem na verdade eram estes homens que compunham o comando do ataque e que muito provavelmente não serão os das fotos difundidas, como sendo os irmãos Chérif e Hayd Kouachi? Destes, já se sabe que serão implacavelmente abatidos sem lhes darem tempo a pronunciarem-se. Eles saberão pelas notícias propagandeadas que são como cartas marcadas para morrer e todo o cadastro histórico que tem sido difundido até à exaustão pela polícia como terroristas e vivências no Iraque e na Síria, conduz à certeza que não lhes darão nunca a possibilidade de virem a ser julgados por um tribunal. Seguramente que não lhes darão tempo para abrir a boca e o assunto morrerá silenciosamente com eles com o carimbo de culpados, até porque está em marcha uma vasta campanha noticiosa de que se tratam de homens perigosíssimos e fortemente armados, o que leva a prever que não estão nada interessados em apanhar os irmãos Kouachi vivos. No momento em que escrevo não há notícia de que terão sido capturados ou mortos, mas estou convencido que eles próprios não se entregarão porque sabem que de uma maneira ou de outra serão mortos a pretexto de qualquer coisa invocada. A história dos serviços secretos franceses dos últimos quarenta anos está cheia de equívocos públicos, não só em território francês como fora dele, como foi por exemplo o caso do navio Rainbow Warrior I do Greenpeace na Nova Zelândia, com membros da equipagem assassinados, entre os quais um fotógrafo português.
Está-se a repetir de outra forma os desígnios atingidos com as torres gémeas de NYC? Será por acaso que ecoam exigências de Sarkozy e outros dirigentes da direita para um reforço do aparelho repressivo do Estado? E vemos Marine Le Pen da Front National desejar o regresso da pena de morte, não certamente para colocar na guilhotina os skinheads que assassinam negros ou árabes pacíficos que são frequentemente atacados por vezes até à morte nas ruas, mas para decepar as cabeças dos negros ou árabes que se defendem deles. O que se está a observar, é a descicatrização das feridas da nunca esquecida expulsão francesa do território argelino (de onde coincidentemente ascendem os irmãos Kouachi) e a exploração da considerada indesejável emigração africana em França, atirando gasolina para a fogueira ao exacerbarem em inflamados artigos de opinião assinados por reconhecidos escroques da direita em jornais da mesma orientação ideológica, a indignação, o ressentimento, medo e dor dos cidadãos gauleses. A acção psicológica de massas já começou e depressa, enquanto as feridas estão abertas e a raiva é facilmente manobrável. Mas neste caso não utilizam a pobreza ou desemprego, nem factos de ordem económica como argumento.
Não sei na verdade qual a verdadeira intenção deste horrível ataque ainda envolto em trevas, mas o que está à vista é suficiente para entender até onde quererão ir. Mas comecemos entretanto pelo princípio: é importante que se analise o vídeo mais divulgado dos acontecimentos, tomando atenção aos detalhes e às movimentações que a muitos escapa, aqui salientadas ao pormenor por um perito americano de forma sarcástica – tal é a sua incredulidade, e que nos conduz a uma teoria conspirativa que não é de todo de ser afastada :
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