UBUNTU: “Eu sou humano porque eu pertenço, eu participo e compartilho” (por Anabela Ferreira)

reveliãoUma tradição africana sobre quem temos de ser: Ubuntu: “Como é que um de nós poderá ficar feliz se todos os outros estiverem tristes?”

Somos porque somos o outro, porque nos contemos no outro. Ubuntu é mais do que uma palavra, ou filosofia. É a essência de quem somos como grupo. A solidariedade e a força de um grupo é maior do que a do indivíduo.

As necessidades da comunidade são maiores que os direitos individuais ou as suas necessidades. E a responsabilidade de cada um é maior para com a comunidade. Não apenas aquela a que pertence. Mas ao todo.

O actual sistema económico que domina as nossas vidas é o verdadeiro déspota. Porque nos submete, atira para a miséria, reprime, escraviza e limita.

De caçadores a bárbaros, hoje predadores bárbaros, fomos caçados neste sistema que como uma praga espalha a sua loucura e nela nos espelhamos sem nos reconhecermos como loucos. A Educação que nos deveria salvar está também ela ignorante repressora e cega.

A voracidade predadora desliga-nos da nossa sensibilidade e da bondade inerente à natureza humana, trouxe-nos a este desnível incoerente e absurdo entre o desenvolvimento tecnológico e o subdesenvolvimento ético.

Os efeitos da globalização, da sociedade viciada pelo consumo, pela individualização e pela megalomania dos homens gananciosos, tem estado naturalmente a derrubar a tradição que vem de África, onde todos começámos.

Não ver e não falar sobre o único sentido da vida em comunidade que é a partilha, a empatia (os valores que nos deveriam guiar como comunidade e como indivíduos), é perder a razão de existir da família humana.

No nosso rectângulo lavado pelo oceano, os lixos estão há demasiado tempo a poluir as nossas areias. Lixo feito de gente sem vergonha que inventa falsas inocências, que nada sabe, nada viu, nada fez, onde tudo é obra de ninguém…ou do Espírito Santo.

No entanto, enriquecem, vendem-nos em pedaços como se o resto de gente que cá ficasse, de gente não se tratasse.

Parece que somos apenas uns mexilhões, prontos a ser comidos com molho de ostras e Porto Vintage…

Lutamos individual e colectivamente para duas variáveis: aprender a sobreviver e a ser felizes. Nessa aprendizagem confrontamo-nos com o nosso maior inimigo: o medo.

-Que cuecas queres que tenha vestidas dona morte (que a todos trata por igual) quando me vieres estender a mão?

Até ao dia que ela me procure, quero apenas ficar refém da simplicidade das relações intrinsecamente simples que aprendo com a natureza. Dela venho, para ela vou.

E de pouco preciso para viver e ser feliz. Como todos. Mas certamente não preciso nem quero o medo!

Nada mais temos a perder. E temos um dever para connosco e para com a comunidade. O de não obedecer à ordem de destruição que nos impõe!

Temos de ter outra maneira de ser.

Para não sermos varridos por uma onda. Como um todo.

Porque temos um presente neste Natal completamente envenenado. Não temos futuro.

Podemos mudar a rota? Sem dúvida. A resposta é: Ubuntu!

a começar por: “revelião”!

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