Morreu o primeiro chefe de um governo democrático em Espanha. Adolfo Suarez tinha 81 anos. O anúncio foi feito pelo porta-voz da família, em Madrid. “Morreu Adolfo Suarez”, disse Fermin Urbiola aos meios de comunicação. O antigo governante sofria de Alzheimer e estava hospitalizado desde segunda-feira.
Foi o político do consenso quando o consenso foi mais valorizado – por algum motivo, Adolfo Suárez continua ainda a ser o primeiro-ministro melhor avaliado pelos espanhóis.
Herdeiro do franquismo, chegou a ocupar vários cargos nos últimos anos do regime. O rei Juan Carlos, que subiu ao trono com a morte de Franco, a 20 de Novembro de 1075, nomeou-o no ano seguinte como primeiro chefe de Governo da transição que permitiu a Espanha sair da ditadura franquista e entrar na democracia.
Tinha apenas 43 anos – “agora é normal que os dirigentes sejam jovens, mas os 43 anos com que Suárez contava eram uma provocação para a gerontocracia da época”, escreveu Joaquín Prieto num texto publicado no El País quando Suárez cumpriu 80 anos, em 2012.
Em Junho de 1977, viu o seu mandato confirmado nas urnas, quando se apresentou como líder do partido centrista União do Centro Democrático às primeiras eleições democráticas organizadas no pós-ditadura. Ainda venceu uma segunda vez, em 1979, mas demitiu-se em Janeiro de 1981, pouco antes da tentativa de golpe de Estado militar de 23 de Fevereiro.
Foi durante os seus governos que as principais reformas da transição foram adoptadas: a legalização de todos os partidos, a amnistia dos presos políticos e a redacção da nova Constituição, aprovada em referendo em 1978.
Ainda se apresentou de novo a eleições, em 1982, com um novo partido, o Centro Democrático e Social, que nunca chegou a ter o sucesso do seu antecessor, mas foi derrotado pelo socialista Felipe González.
“Foi uma peça chave na história de Espanha e provavelmente não se entenderia a transição política se não fosse pela sua intervenção, para além da de duas ou três pessoas mais, que foi fundamental nesse processo”, disse sobre Suárez José Carrillo, reitor da Universidade Complutense de Madrid e filho do histórico dirigente do Partido Comunista Espanhol Santiago Carrillo. Contra a direita e os militares, em 1977 Suárez decide legalizar o PCE, liderado então por Carrillo.
Em declarações na sexta-feira, depois do filho de Suárez ter anunciado que a sua morte era “iminente”, José Carrillo recordou “a famosa reunião de 27 de Fevereiro de 1977”, quando o seu pai e o líder comunista estabeleceram o primeiro contacto para a legalização do PCE.
“O rei esteve presente todos os dias destes últimos onze anos”, disse o filho do ex-chefe de Governo, Adolfo Suárez Illana. “Juntos, eles mudaram o curso da História de Espanha. Graças ao rei, ele foi presidente do Governo, graças ao rei, ele pôde fazer o que queria num momento único da História de Espanha.”
Suárez tinha sido internado na segunda-feira com um problema respiratório mas há onze anos que sofria de Alzheimer. A doença só foi divulgada publicamente em 2005, pelo filho. “O meu pai já não se lembra de ter sido chefe de Governo”, disse então Adolfo Suárez Illana.
Suárez nasceu a 25 de Setembro de 1932 em Cebreros, na província de Ávila. Teve cinco filhos e ficou viúvo em 2001, quando a sua mulher, Amparo Illana, morreu de cancro. Em 2004, perdeu uma filha para a mesma doença.
Fonte: http://www.publico.pt/mundo/noticia/morreu-adolfo-suarez-o-primeiro-chefe-de-um-governo-democratico-em-espanha-1629408
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