Vamos chamar os bois pelo nome… A irrevogável manipulação! (por Jacinto Furtado)

MinistrosIsto está bonito, está mesmo muito bonito. Portugal não tem um governo, tem uma central de manipulação. Já não há o mínimo de decorro.

Hoje, naquela que era chamada de casa da democracia, a Assembleia da Republica, o vice-rei… Perdão o vice-primeiro-ministro afirmou com uma total, absoluta e completa tranquilidade que as exclusões que ocorreram no rendimento social de inserção (RSI) foram excluídas por terem mais de 100 mil Euros em depósitos bancários “O senhor diz que uma série de pessoas saíram do RSI, esquece-se de dizer que essas pessoas deixaram de ter rendimento mínimo porque, por acaso, tinham mais de 100 mil euros na conta bancária” disse Paulo Portas ao deputado Pedro Marques.

Esta afirmação do irrevogável vice não pode ser uma afirmação atirada ao ar. A afirmação do vice proferida na Assembleia da República não pode ter o mesmo resultado duma ordinária conversa de taberna. Só há duas hipóteses relativamente à afirmação de Paulo Portas, ambas exigem que rolem cabeças.

Quais são? Fácil!

Ou Paulo Portas mentiu e tem, sozinho ou com ajuda, de assumir a mentira e retirar daí consequências politicas demitindo-se ou sendo demitido. (ah ah ah ah on your dreams”)

Ou os técnicos que numa primeira fase aprovaram e concederam o RSI a esses ricaços disfarçados fizeram um trabalho de caca (não escrevo trabalho de merda para não ferir algum leitor mais sensível) e têm de ser responsabilizados.

Uma destas duas consequências têm de se tornar realidade. Bem sei, não vale a pena relembrarem-me que nada disto vai acontecer. Nem vão aparecer os ricaços dos 100 mil Euros, nem há técnicos responsáveis, nem a mentira do vice vai ter alguma consequência. Foi apenas mais uma das manobras recorrentes.

Tudo isto é normal num governo que não decide, não governa. Tudo isto é normal num governo que faz “sondagens de opinião”. Sempre que o governo pensa tomar alguma medida que pode ser polémica organiza uma providencial fuga de informação a que depois chama especulação ou outra coisa qualquer. O procedimento é simples e a malta vai comendo. Lança-se a “fuga de informação” de que o governo está a preparar uma medida que vai retirar um salário completo aos trabalhadores, por exemplo um subsídio. A malta começa a berrar, a dizer que mata, esfola e faz trinta por uma linha.

Está garantido o resultado da sondagem/manipulação. Já sabem que se forem por aí a coisa pode correr mal, então desmente-se, diz-se que não é nada disso mas que atendendo aos tempos que vivemos vão todos mamar com um corte de meio subsidio. O Povo suspira de alivio e diz “Ah bom, se é assim está bem, ai deles que fosse o subsidio completo. Até os trincava”.

Como podem ver é fácil. O governo vai cortar as pernas a todos os Portugueses. Drama, horror, tragédia… Nada disso, afinal é só uma perna… Ufff ainda bem, pelo menos vamos poder andar ao pé coxinho. Esta estratégia de sondagem/manipulação começou a ser testada, pelo menos de forma mais visível em 2012 com a famosa TSU que deu pano para mangas. A malta foi na mesma entalada mas já estavam contentes porque, na santa ingenuidade, acharam que os tinha feito recuar.

Desta vez a fantochada correu mal, aproveitando a viagem do primeiro, do vice e de restante… … … comitiva (estava a faltar-me o termo), preparou-se mais uma manobra de sondagem/manipulação. José Leite Martins, secretário de estado da administração pública chama ao ministério das finanças os jornalistas para uma conversa informal. Nessa conversa informal diz que os cortes das pensões são definitivos. Para a manipulação da coisa ser completa lá acrescenta que não podem dizer que foi ele que disse.

Claro que deu raia, claro que a malta se irritou e claro que o primeiro veio logo a correr dizer que não era verdade, era mais uma especulação. Foi secundado pelo ministro da presidência Marques Mendes. Há uma diferença entre esta e as restantes manobras de propaganda, desta vez os jornalistas não se acobardaram e os directores dos OCS envolvidos deram, muito bem, com a língua nos dentes desmascarando a fantochada.

Hoje o vice, outra vez o vice, vem dizer que “O que aconteceu foi um erro, não devia ter acontecido.”. Gosto de ouvir dizer coisas elementares. Claro que foi um erro, claro que não devia ter acontecido. Logo à partida foi um erro de casting, por o secretário de estado no papel de delator ainda por cima a convidar com pompa e circunstância os jornalistas para irem ao ministério só podia dar mau resultado. Para a próxima tentem outra coisa, por exemplo, a secretária do secretário que vá beber um café com os jornalistas ao Martinho da Arcada e como quem não quer a coisa que deixe escapar o “segredo”.

Curiosamente, ou talvez não voltamos a estar perante uma situação que exige uma de duas soluções. Caso José Leite Martins tenha mentido e tenha dado uma informação falsa aos jornalistas tem de ser afastado do governo. Por outro lado, se o secretário de estado falou verdade e quem mentiu foi o primeiro, o vice e o outro da presidência então é de bom tom que assumam as consequências.

Claro que todos estes cenários só seriam possíveis num País onde a classe politica e os governantes tivessem um pingo de vergonha na cara e assumissem com decência os cargos que lhes foram confiados.

Vamos chamar os bois pelo nome… Estamos irrevogavelmente condenados a viver no meio da mentira e da manipulação!

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