Vamos deixar o Juiz Ivo Rosa sozinho?

Não, não podemos deixar que isso aconteça. E como dizia Martin Luther King, o que é mais preocupante, por vezes, não é a acção das pessoas desonestas, mas o silêncio das pessoas honestas.

Na minha memória viva de adulto, a maior prova de coragem a que assisti ocorreu na passada sexta-feira através do exercício do direito à palavra. 

Ivo Rosa vinha de ser alvo de uma campanha negra, ou melhor dizendo uma perseguição, desde que foi sorteado para ser o juiz de instrução da Operação Marquês. A pressão sobre a sua pessoa foi em crescendo nas semanas e dias que antecederam a leitura da decisão instrutória. Pressão mediática e judicial; portanto, política. Para além disso, ele sabia que essa pressão iria multiplicar-se por 100 ou por 1000 assim que acabasse de ler o resumo do que decidiu a respeito da colossal montanha de dados, informações e testemunhos que lhe foram entregues para avaliar. Nada disso o fez trair a sua responsabilidade e a sua missão com plena integridade. Escolheu o que achou mais correcto de acordo com a Lei e contra a expectativa de muitos. Porque vai ganhar dinheiro com isso ou ser favorecido na carreira? Será mais provavelmente ao contrário. Foi apenas porque se dá o caso de Ivo Rosa ser a pessoa mais corajosa que apareceu neste país até onde a vista alcança.

A Constituição é um conjunto de palavras que só têm poder para quem as respeitar, e serve para separar a legalidade dos abusos. Ivo Rosa resgatou a credibilidade da Justiça ao mostrar como ela foi maltratada e pervertida na investigação e acusação da Operação Marquês. Fê-lo a partir da Constituição e para o bem comum. Como pagamento, está a ter uma resposta de ataques ferozes e cerco daqueles para quem a caçada a Sócrates não passa de uma golpada política onde está em causa obter ganhos para a luta pelo poder. 

Mas o que vemos é apenas a ponta do icebergue, dezenas ou centenas de juristas estão neste momento a compilar furiosamente argumentários para fornecer aos juízes da Relação que vierem a ficar com o recurso do Ministério Público. Exagero? Claro, sei lá quem é que faz o quê. Mas caricatura fiel a partir do que vemos na comunicação social, onde as intervenções torrenciais e ubíquas fazem um coro de apelo ao Tribunal da Relação de Lisboa para satisfazer o que José Gomes Ferreira pediu: pôr Ivo Rosa “no seu devido lugar”. Que lugar é esse? É aquele definido por um conselheiro de Estado, o anão Marques Mendes, escolhido directamente pelo Presidente da República: mostrar que Ivo Rosa “é um perigo à solta”.

Nunca se viu tamanha perseguição a um juiz em Portugal. Não existe nada sequer comparável. Perseguição da direita, recorrendo a figuras com responsabilidades cimeiras no Estado e usando sem disfarce os editorialistas e jornalistas de que dispõe para envenenar a opinião pública contra um juiz. Um juiz que odeiam e querem destruir porque não teve medo de decidir de acordo com a sua soberana consciência.

Faz todo o sentido, porém. A direita decadente, das golpadas e dos autos-de-fé, abomina a coragem e a liberdade.

Telmo Vaz Pereira

NR: Texto publicado inicialmente na página de Telmo Vaz Pereira no Facebook

2 comentários a “Vamos deixar o Juiz Ivo Rosa sozinho?”

  1. Susana Lourenço diz:

    Admiro o juiz Ivo Rosa, agiu de acordo com a Lei e a sua consciência, sem render apoios a interesses instalados, correto.

  2. Luís Acácio diz:

    Deixo todo o meu apoio ao dr juiz Ivo rosa, pela sua coragem em chamar os bois pelos próprios nomes, desmontando a teia em que a justiça portuguesa anda envolvida desde a muitos anos de braço dado com jornalistas oblíquos, a quem e indiferente que a mesma seja aplicada nos preceitos da lei, desde que atinjam os objetivos dos seus mandantes encobertos pelo sigilo profissional desta classe decadente, que não Olha aos meios para atingir os seus inconfessáveis fins…esperemos que a relação agora siga o caminho aberto pelo dr. Ivo rosa.

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