Ser cidadão consciente é uma obrigação ética e moral.
Qualquer semelhança com a realidade pode não ser coincidência.
História surreal inspirada em factos surreais.
Tarde ventosa na linha. Numa sala virada a sul, com chaise longues de padrões beije e verde, psichés da avó Madalena, cortinas de brocados e lamés corridas, um grupo de homens de meia-idade, cabelo com corte à vela, sapatos de berloques à foda-se, pull-over de lã de merino sobre os ombros, charutos do regime de Castro, bebericando cognac e tratando-se por você, enquanto as mulheres comparam malas e écharpes compradas na extinta feira de Cascais e o último jantar do partido na reentrée no Allgarve, na varanda virada para a praia de São João, ouve-se a voz ainda possante do tio Passarão Amorim da Cunha e Brito, – Vamos lançar um abaixo assinado provocador. Na missa de domingo falamos com o padre para oferecer um chá e doutrinar um bocado. Na carta dizemos que somos todos a favor do livre arbítrio, qualquer coisa assim, ou uma objecção de consciência, sei lá…depois pedimos ao cigano aventura que vá lá à assembleia dos feios porcos e maus dizer que exige uma lei que torne a coisa assim digamos, opcional, ou assim. Que não queremos os meninos a serem subvertidos dos princípios cristãos que ensinamos em casa, qualquer coisa assim tá a ver? Importante mesmo é meter Deus e o seu filho ao barulho. Retiramos umas múmias dos sarcófagos para ajudarem a nossa luta. Toda a gente vai achar que o nosso menino papel de embrulho é um democrata porque só a esquerda caviar ou o monhé querem impor uma agenda extremista. Será a nossa grande sacanagem.
Caturreira!
Uns vão arrepelar os cabelos e enquanto toda a gente andar a gritar dividida e confusa aumentamos o nosso potencial votante no ciganito – o nosso testa de ferro parece mesmo um ciganito, tem cor e tudo – não acham? É um possidónio mas uma escolha catita. O que interessa é que nós ficamos a rir e a beber champagne até à vitória final. Quando for para votar o orçamento vamos encostá-los às cordas. Todos a fazer barulho tá? Criem perfis falsos, inventem tudo o que quiserem, têm total liberdade, rebentem com eles que depois o tio promete recompensar-vos. – Tio, que bela ideia, conte comigo! Viva o 24 de Abril.
Anabela Ferreira
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