Viva Portugal do “deixa andar” (por Jacinto Furtado)

Passos“Viva Portugal do “deixa andar”
Viva o futebol cada vez mais
Viva a Liberdade, viva a impunidade
Dos aldrabões quejandos e que tais
Viva o Tribunal, viva o juiz
E paga o justo pelo pecador
Viva a incompetência, viva a arrogância
Viva Portugal no seu melhor”

Como não gosto de paninhos quentes vamos já directos à coisa,  há um culpado por o País estar a ser governado por um individuo que não tem o mínimo de vergonha na cara, um individuo que é capaz de mentir com a maior tranquilidade, um individuo que vive uma realidade paralela. Há um culpado e esse culpado tem nome, chama-se Filipe La Féria.

Um pequeno pormenor, apenas um pequeno pormenor fez com que La Féria tivesse recusado Passos Coelho nas audições para o elenco de My Fair Lady. La Féria queria um tenor e Passos Coelho era barítonoou seja, era necessário alguém que cantasse uma oitava acima de Dó e Coelho cantava duas oitavas de Lá para baixo. Bem pode Filipe La Féria ter remorsos.

Por causa desta “insignificância” de duas oitavas de Lá para baixo ficámos com o País num estado de várias oitavas acima dum Dó de alma. Depois sabe-se o que aconteceu, continuaram os negócios da Tecnoforma entre Passos Coelho e o secretário de estado Miguel Relvas, uupppsss não se pode falar na Tecnoforma, é tema proibido e perigoso, deve ter sido à conta disso que a directora do DCIAP, Cândida Almeida, foi corrida para uma prateleira dourada.

La Féria não quis Passos Coelho mas uma das velhas raposas, Ângelo Correia, não perdeu a oportunidade de contratar para as suas empresas um putativo actor que muito jeito daria mais tarde a desempenhar outros papeis.

“Viva a notícia, da chafurda social
De que o Povo tanto gosta 
Espectáculo da devassa
Viva o delator sem fuça
É a morte do artista”

No seu blog “Vai e Vem”, Estrela Serrano, por quem tenho enorme consideração e respeito, publica um artigo intitulado “A arte da manipulação” onde descreve a forma como um jornal, jogando com os títulos, as fotos e a forma como apresenta a noticia induz o leitor a fazer uma leitura e a retirar uma conclusão errada. 

Não é que Estrela Serrano tenha descoberto a pólvora, a manipulação da opinião pública pela comunicação social é cada vez mais evidente. Infelizmente os jornais deixaram de ser os fornecedores de informação para que os leitores formem, com base nessa informação, a sua opinião, passaram a ser os fazedores de opinião. Imaginem que até há uns manhosos que se dão ao luxo de, volta não volta, inventarem noticias e não se passa nada.

Discordo de Estrela Serrano quando ela defende achar legítimo um jornal ser contra ou a favor de alguma coisa, fazendo disso a sua opção editorial. Serei talvez um purista mas defendo que um jornal, por maioria de razão os jornalistas, devem relatar com exactidão e independência os factos. Não é por acaso que o próprio código deontológico dos jornalistas assim o define, ou seja, um jornal ter opinião é legitimo desde que identifique como tal a publicação, travestir de noticia uma opinião ou manipular a opinião é de todo ilegítimo e violador do código deontológico que devem respeitar.

“Viva a pepineira do «show-off»
Dos apresentadores de televisão
Viva a voz do tacho de quem vem de baixo
Do chefe do ministro do patrão”

Voltando ao barítono de dar Dó, a manipulação que faz da opinião pública já ultrapassa o limiar da burla. Resolveu anunciar que a taxa de pobreza em Portugal baixou dois pontos percentuais, “esqueceu-se” de dizer que estava a utilizar dados de 2011, antes de chegar ao pote, não estava a utilizar os dados actuais. Na verdade a taxa de pobreza em Portugal aumentou, números do Instituto Nacional de Estatística demonstram que os pobres em Portugal não estão a diminuir,  estão a aumentar. Temos a maior taxa de pobreza registada desde 2005. Até 23 de Novembro de 2004 o primeiro-ministro chamava-se… Durão Barroso.

Falar de pobreza em termos percentuais é sempre uma atitude de extrema frieza, a tragédia social que atravessamos não pode ser reduzida a meras percentagens, o drama social, o aumento de casos de fome não podem continuar a ser escondidos da opinião pública por uma comunicação social vendida a interesses económicos de proveniência duvidosa.

Porque será que a burla do barítono de dar dó, ao utilizar números falsos (falsos do ponto de vista temporal) não foi amplamente denunciada na comunicação social?

“E viva a vilanagem financeira
E a licenciatura virtual
Viva a corretagem, viva a roubalheira
Viva a edição do «Tal & Qual»”

Passos Coelho vem a público afirmar que a situação no BES é um problema da família e não um problema nacional. É falso! A situação no BES é o culminar de décadas de jogos pouco claros, de tráfico de influências, de manipulação, de prémios duvidosos. O construtor civil José Guilherme, grande benemérito, ofereceu a Ricardo Salgado uma gratificação de 14 milhões de Euros, alegadamente pelos bons conselhos que este lhe terá dado na sua fuga, perdão na sua expansão, para Angola.

A não ser que Passos Coelho, ao dizer que é um problema de família, queira dizer que é um problema de cosa nostra a situação do BES, tal como a do BPN, do BPP e tantas outras não são questões pessoais mas sim casos de policia em que se exige uma justiça rápida, eficaz e efectiva. Não podem ser sempre os mesmos a pagar a factura dos crimes cometidos por uns quantos. Foi hoje publicado no Notícias Online um texto fantástico da autoria de Carlos Paz intitulado “a história do banco do meu avô” que merece uma leitura atenta para melhor se entender os contornos da coisa, qualquer semelhança entre o texto de Carlos Paz e a realidade é pura coincidência, ou talvez não! 

“E viva a inveja nacional
Viva o fausto, viva a exibição
Da dívida calada, que hoje não se paga
Mas amanhã os outros pagarão”

O farsa com que os lideres do regime quiseram acusar o Tribunal Constitucional por, ao cumprirem a sua função de fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa, estarem a atirar Portugal para o abismo. A fúria que sentiram por não conseguirem massacrar ainda mais o Povo que os levou a sugerir que à conta do “fundamentalismo” do texto fundamental Portugal acabaria por cair num segundo resgate por não ter condições de receber a última tranche da Troika. 

“Viva a moda, viva o Carnaval
olarilas, olarilolé
Viva a tatuagem, brindo à bebunagem
Que vai na Internet e na TV”

Depois do Carnaval à volta do Tribunal Constitucional e da última tranche da Troika vem a Lady SWAP dizer que afinal ia dispensar a tranche, disse que não necessitava dela. Esqueceu-se, outra vez o esquecimento nas cabeças do regime, de informar o Povo que abdicava da tranche da Troika com um juro de 3% mas que ia buscar dinheiro aos mercados, sempre os mercados, com um juro de 5,2%.

Magnifica decisão, do ponto de vista de gestão, se o Estado se guiasse por regras de competência, dava direito a despedimento com justa causa.

Porque será que esta manobra não foi amplamente denunciada na comunicação social?

“Calem-se o Cravinho e o bastonário
O Medina, o Neto e sempre o Zé
Viva o foguetório, conto do vigário
Que dá p’ra Aeroporto e TGV”

Calem-se as vozes discordantes, as vozes que denunciam o conto do vigário em que vivemos, manipule-se a opinião pública através duma comunicação social rendida ou vendida ao poder económico e aos interesses políticos. Quem não sabe é como quem não vê, quem não sabe e não vê é como quem não sente e de mentira em mentira lá se vai mantendo o Povo entretido com futebóis e outros que tais.

“Viva o mundo da publicidade
O «share» ou não «share» eis a questão
O esperto da sondagem, o assessor de imagem
Viva o fazedor de opinião”

Imagino que já se devem ter interrogado sobre a razão de ter escrito este texto com uma quadras pelo meio. A explicação é simples, as quadras, no seu conjunto, são a letra dum tema do Paco Bandeira intitulado “Share ou não Share”, por alguma razão, um tema proibido na rádio e na TV, vá-se lá saber porquê.Como o Notícias Online não alinha pelo diapasão da nova forma de censura e de manipulação da opinião pública resolvi aproveitar este tema para ir ilustrando o texto.

Oiçam que é muito interessante!

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