Manamana, tutu rututu

Estou de acordo com os historiadores que mencionam o facto de ter Portugal vivido uma ditadura feroz, por causa dela não se podia falar nem estudar (teses que havia negavam factos) sobre a História da Escravatura.

Segundo alguns Historiadores só no pós 25 de Abril se começaram não apenas a estudar como a escrever sobre os dois abomináveis crimes contra a Humanidade- Escravatura (em particular) e a Inquisição (em particular o efeitos devastadores nas mulheres com a cultura do patriarcado), sendo que ainda pouco tem Portugal escrito sobre as sequelas que não sejam romanceadas.

Estão todos estes assuntos ligados e estamos todos ligados onde quer que estejamos no mundo.

A Escravatura Britânica incomoda-me porque um ofical Inglês quando se deslocou à Cidade Velha na Ilha de Santiago, entreposto primeiro Português de escravos, apaixonou-se por uma escrava (ou direi melhor, curtiu-lhe a cor ou a violou) e fez-lhe uns filhos.

Claro que depois a abandonou e continuou na sua missão de compra de escravos para a corôa Britânica. Era uma trisavó minha, estão a ver a história?

Nem a Escravatura nem o Colonialismo Português foram um romance de Jane Eyre ou de Júlio Dinis. Foram marcadas com o selo da violência.

Factos- cerca de onze milhões de pessoas entre 1450 e 1900 foram traficadas por Portugal, que se tornou o primeiro estado do mundo europeu a fazer comércio global de escravos vindos de África (Atlântico e Indico). Também a abolimos primeiro (ó glória nas alturas que fofinhos somos), mas demorou até cumprirmos o decreto. A última escrava morreu em 1930 em Lisboa, no Bairro Alto.

Houve “outras escravaturas noutros mercados e noutras rotas”? claro que sim. Por outros povos e Impérios?claro que sim.

Ainda hoje há escravatura e tráfico de seres humanos, incluindo de crianças. E por isso não devemos discutir e conhecer os nossos factos?

Devemos continuar a idolatrar, romancear e colocar em pedestais as figuras centrais deste comércio europeu praticado por católicos e protestantes?

Há quem não queira discutir os factos. Têm uma ideia e não saiem do preconceito para alargar a visão afunilada.

Dizem ser passado. Não podemos olhar as estruturas criadas no passado aos olhos de hoje.

Então vamos negar, silenciar e esquecer?

Não esqueçam que só agora começamos a falar e a contar a História. Leiam o primeiro parágrafo.

Até há quem já tenha perdido a paciência de ouvir falar nos assuntos que provocam mais desigualdade social – o racismo e o machismo.

Duas estruturas concebidas cientificamente como foi concebida a”solução final”.

A desumanização ao serviço da ciência e da política em particular.

O preto era um animal. Um ser inferior. O judeu era um ser inferior. A mulher era um ser inferior.

Não quero matar quem pensa assim ou quem institucionalizou a descriminação (até porque a maioria já morreu), mas está idolatrada em estátuas e no romance que o colectivo estabeleceu destas figuras.

Mas quero matar este pensamento, a sua raiz, de quem tem vontade de calar, manipular, negar e perpetuar uma história falsa para continuar a usar a descriminação e a desigualdade. Amiguinhos, assim não há futuro.

O 25 de Abril tem menos de meio século de existência, o debate mal começou.

A História mal começou a ser estudada. Não vos falte a paciência, a procissão nem da Igreja saiu para o adro.

Imagino o desgosto que os escravocratas e os inquisidores sentiram quando saiu o decreto de que tinham que acabar com aquela cena marada.

Não porque fosse marada, mas porque já começava a parecer mal para uns quantos politicamente correctos que andavam a azucrinar.

Então e os escravos rebeldes que cada vez mais fugiam, matavam donos e organizavam o fim da escravatura? E as mulheres violadas que estavam fartas da cena marada de serem violadas?

Cambada de politicamente correctos e atrevidos.

Os velhos do Restelo tiveram que engolir, avançar em direcção ao futuro e à evolução. Um aborrecimento.

Não podiam pagar a “haters” para fazer o papel de “haters”. Tiveram de se resignar e obviamente acabou. Mais ou menos.

Mas a vida é bela. Chegou o tanque de guerra e… “abbiamo vinto”! Só que nem por isso. Mas uma boa fatia da porcaria, sim, acabou.

Hoje, os que não querem falar da História e do que provoca em Portugal desigualdades marcadas a ferros e grilhões tem de se resignar e ouvir a outra parte. Porque não se calam um pedaço?

Ouçam o outro lado. Se não doer muito. Se doer muito peguem nos grilhões e amarrem-nos de novo.

Como dizem os Britânicos que também odeiam esta conversa, “bare with me”, quer gostem da conversa quer não.

O futuro já começou. Os factos são indesmentíveis mesmo que não gostemos deles.

Os factos levados a cabo com violência, geraram violência.

O racismo gerou racismo. O ódio a um grupo gerou ódio ao contrário.

Esperavam chá e biscoitos?

No caso Português, o colonialismo assentou na Escravatura, na descriminação e no racismo. Levou a guerras fratricidas. São factos da História.

Geraram amor incondicional? Pois…não podia.

Então dê-se o lugar “às novas”, histórias. Assuma-se o que aconteceu que é já meio caminho andado para o entendimento.

Criem-se leis anti descriminação e anti racistas.

Dêem-se oportunidades e representatividade. Somos ou não responsáveis?

Hoje os chamados “politicamente correctos” (brancos e pretos) do lado certo, querem restituir as histórias à História, fazer justiça e dar direitos a quem os não teve, foi descriminado ou de direitos tem tido poucos.

Há dúvidas?

Vamos ler e estudar ou então …manamana

(se alguém quiser lutar comigo nesta arena faça-me um favor e vista o fato de ninja historiador).

Pode negar os factos acima mencionados? Se não, mantenha-se no ringue, não se distraia nem crie manobras de distracção.

Hoje domingo vim debitar um monte de lugares comuns porque a conversa está difícil de se fazer, convém ir repetindo como fazemos com as crianças.

Um dia a água mole entra nas pedras duras.

Um domingo manamana tutu tururu com os muppet show que é este manicómico

Anabela Ferreira

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